Irrompeu novamente a violência em Ambon, Molucas do Sul, Indonésia, dando um golpe na tentativa de diálogo entre muçulmanos e cristão que trouxe uma relativa paz à região em fevereiro deste ano.
O ponto crítico foi no domingo último, 25 de abril, quando o partido da independência FKM-RMS (Frente da Soberania das Molucas) celebrou o seu 54º aniversário hasteando bandeiras proibidas. A violência que se seguiu deixou mais de 26 mortos e oitenta feridos.
Os muçulmanos vêem o RMS como um braço da comunidade cristã, que busca a independência do governo central. As igrejas negaram qualquer envolvimento com o RMS, e condenaram suas atividades, mas suas negativas passaram desapercebidas, o que levou a novas lutas entre as comunidades muçulmana e cristã.
Duas igrejas foram destruídas violência, sendo a mais recente a igreja Nazaré, que acabou em chamas no domingo à noite, 2 de maio. A Universidade Cristã da cidade de Ambon, em grande parte reconstruída depois dos ataques de conflitos anteriores, foi incendiada na terça-feira, 27 de abril.
As transmissões de TV nacionais mostraram cristãos reunidos do lado de fora dos quartéis de polícia com lágrimas nos olhos, entoando cânticos nacionais numa tentativa de demonstrar submissão à República da Indonésia. Porta-vozes da multidão disseram que os cristãos não eram cidadãos de segunda classe e deveriam ter seus direitos protegidos contra ativistas e criminosos.
Uma reunião de líderes religiosos nacionais aconteceu em Jacarta na terça-feira, 27 de abril, de acordo com o Jakarta Post. Líderes muçulmanos, protestantes, hindus, budistas e confucionistas do Comitê Indonésio para Religião e Paz disseram que essa provocação de terceiros foi a melhor explicação para a recente violência em Ambon.
Sigit Pamudji, do Conselho de Bispos da Indonésia (CBI), disse que acreditava que certos partidos haviam provocado este conflito para benefício próprio e estavam tentando fazer outras pessoas pensar que o povo das Molucas não podia resolver seus próprios problemas.
Os líderes religiosos reuniram-se também com as autoridades ambonesas e líderes políticos no dia 27 de abril para discutirem estratégias para acabar com o conflito. Os líderes cristãos se apressaram em mostrar que a pequena facção de independência, a FKM-RMS, não estava no centro da violência; seus protestos eram pacíficos e os membros não tinham recursos ou armas para tal atividade.
Entretanto, Mozes Tuanakotta, secretário geral do FKM-RMS, foi detido pela polícia depois do incidente de hasteamento da bandeira.
Alguns observadores acreditam que ativistas estão aproveitando a confusão para incendiar, matar e saquear com o objetivo de interromper o processo de paz nas Molucas do Sul. No momento, a violência parece restringir-se à cidade de Ambon e não se espalhou para os vilarejos periféricos.
O jornal Republika, baseado em Jacarta, citou Ja´far Umar Thalib, líder do Laskar Jihad (um grupo ativista muçulmano proscrito), que teria dito estar pronto para mandar seus homens para Ambon para proteger a República da Indonésia se a polícia e outras forças de segurança não pudessem controlar o conflito.
A intervenção de Thalib com as tropas do Jihad Laskar nos conflitos anteriores prolongou a violência, em vez de resolvê-la.
O número de mortos subiu agora para 26, com mais de duzentas casas destruídas pelo fogo. Centenas de muçulmanos e cristãos fugiram de suas casas na cidade até o momento dividida, deixando-as à mercê de incendiários criminosos. Na semana passada, pequenos grupos armados com facões e porretes montaram guarda em barricadas levantadas às pressas nas ruas nas entradas a setores muçulmanos e cristãos da cidade. Somente uns poucos boxes no mercado se atreveram a funcionar, vendendo somente o essencial.
Trinta e um médicos foram mandados a Ambon para ajudar na crise. Um contingente de quatrocentos policiais militares também foi mandado para a área, sendo que três deles constam agora entre os mortos. O governo também planeja mandar aproximadamente seicentos soldados como reforço.
As autoridades ainda enfrentam os efeitos posteriores da violência que primeiro irrompeu em 1999. Elas construíram abrigo para um grande número de cerca de 36 mil refugiados que ainda vivem em campos de refugiados nas Molucas do Sul. Entretanto, os residentes nos campos dizem que as novas casas são pequenas demais para as famílias e que o fornecimento de água e energia elétrica é inadequado. Muitos deles se recusaram a deixar os campos de refugiados, que eles alegam ter melhores instalações.
Os refugiados foram avisados para que saíssem dos campos provisórios e se mudassem para as novas moradias dentro de dois meses ou seriam expulsos. Uma entrada de novos refugiados provenientes da luta atual pode causar mais dor de cabeça às autoridades locais.
O padre Kees Bohm, do Centro de Crise Católico Romano em Ambon, disse que muitos começaram a ter esperanças de um fim definitivo para as mortes e destruição de propriedades nas Molucas do Sul. A recente explosão de violência é um recuo definido ao frágil processo de paz.
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