A crise deixou pelo menos 100 mil filipinos deslocados e desabrigados. Khalil tem sido instrumento fundamental para a Portas Abertas como fonte de notícias e atualizações no auge da situação em Zamboanga. Este é o primeiro de seus três relatos refletindo, um ano depois, sobre tudo o que viveu e ainda vive.
Um impasse sangrento aconteceu em minha cidade em 9 de setembro de 2013. O que ocorreu naquele conflito permanece em minha mente até hoje. Eu ainda posso ouvir os tiros e granadas explodindo; os gritos de crianças à procura de suas mães; o grito das mães que perderam seus filhos no caminho; e a sirene ensurdecedora da ambulância correndo para atender soldados e civis feridos. Eu ainda posso sentir o calor e o cheiro das chamas das casas de muitas pessoas reduzidas a cinzas enquanto a luta se seguia.
Tudo isso podem ser memórias do passado, mas que memórias vivas! O confronto deixou 38 civis e militares mortos. Os rebeldes sofreram uma perda de 158 homens. A cidade de Zamboanga ainda sofre com as consequências da luta entre irmãos – e tudo devido à ganância por dinheiro e poder.
Cerca de 3.168 famílias vivem em condições ainda mais difíceis nas arquibancadas da cidade que viraram centro de evacuação. Aqueles que conseguiram se mudar para locais temporários se perguntam quando tudo voltará ao normal. Aqueles que foram indiretamente afetados têm ficado impacientes com relação à demora da justiça. A população ainda fica insegura quando avista homens armados, pois teme que um segundo ataque aconteça a qualquer momento. Todos vivem cautelosos enquanto rumores se espalham por meio de conversas e mensagens de texto.
Eu me pergunto quando é que esse sofrimento vai acabar. Quando voltaremos para nossas casas? Quando vamos experimentar a verdadeira paz e ver a justiça ser feita? Quando é que os rumores cessarão e veremos um progresso real? Quando alcançaremos nosso sonho de uma vida tranquila?
Enquanto Zamboanga espera e procura por respostas, o restante das Filipinas ainda está se perguntando o que realmente aconteceu na madrugada de 9 de setembro. Quem estava envolvido? O que foi feito com aqueles que perturbaram a vida, outrora pacífica, do povo de Zamboanga?
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