Hoje é meu último dia neste país abalado pela violência e intolerância. Amanhã eu vou deixar o Iraque e voltar para casa. Simples assim, fácil. Um grande contraste em comparação com as pessoas que conheci durante os últimos dias. Em várias ocasiões, colocando ambos os dedos indicadores juntos e fazendo o movimento de voar, os cristãos comunicaram por meio de sinais que gostariam de ir comigo.
Há momentos em que sinto profunda tristeza, e no momento seguinte eu não posso deixar de rir em voz alta sobre algo que está acontecendo ou que alguém está dizendo. É uma montanha-russa emocional e meu corpo e estômago estão protestando de certa forma.
Hoje nós visitamos um edifício de concreto inacabado, que abriga mais de 100 famílias cristãs. Parte do espaço é dividido por biombos com uma "casa" para cada família, mas outras partes do edifício são apenas um espaço aberto. Os cristãos que buscaram refúgio ali são atendidos por membros de uma igreja local.
Devo admitir que locais fotogênicos como estes são o sonho de qualquer fotógrafo, por outro lado, eu me sinto como um paparazzo. Essas pessoas perderam tudo, até mesmo a sua privacidade, e eu, uma estranha e estrangeira, venho e tiro fotos de sua angústia.
Mas, em vez de se sentirem ofendidos, eles me acolhem como uma amiga. Um jovem estudante me diz em seu melhor inglês que é muito importante contar a sua história ao mundo por escrito ou em imagens.
Eles até me pedem para tirar fotos deles. Eles estão me agradecendo por estar ali. É tudo uma questão de perspectivas. Especialmente as crianças gostam de serem fotografadas. E elas são tão bonitas!
Após cinco dias de visitas a igrejas, campos de refugiados, casas de pastores e colegas de trabalho, eu tenho aprendido muito, e tenho visto muita fé. Mesmo quando as pessoas passam pelo vale escuro, se houver fé, então haverá amor, esperança e até mesmo gargalhadas.
O pastor Douglas*, por exemplo, motiva as crianças a se sentirem responsáveis ​​pela higiene do acampamento no pátio da igreja. No final de cada dia, ele exige o "momento do lixo”. Para cada sacola cheia de lixo, os meninos e meninas são recompensados com alguns biscoitos, bebidas ou outro pequeno agrado. Além de ter um momento de diversão, essa é também uma forma de ensiná-los a manter o lugar sempre limpo, e isso é bom, pois desenvolve a responsabilidade.
Outro pastor me disse que ele motiva as pessoas a participar do apoio a outros refugiados. Ele diz: "Isso dá a eles um propósito de vida e os ajuda a se concentrar nas coisas boas. Vendo a grande necessidade de outras pessoas, por vezes, os ajuda a agradecer pelas coisas que eles ainda têm, como comida, um lugar para se hospedar e familiares vivos."
Outra grande iniciativa é ajudar as igrejas criando espaços voltados para crianças, que é um lugar especial ou tenda onde elas podem ser apenas crianças. Makruhi* é professor e, junto com um dos colaboradores da Portas Abertas, recentemente começou a ensinar às igrejas como criar um espaço acolhedor para as crianças.
Este projeto também inclui a formação de pessoas para trabalhar com essas crianças. Prepara aqueles que vão cuidar delas, dizendo o que esperar daqueles que estão traumatizados. Também ensina como responder ao comportamento agressivo que algumas delas podem ter. Em suma, a mensagem será sempre tentar entender a razão pela qual uma criança pode ser agressiva. Nunca responder com raiva, mas mostrar-lhes amor e compaixão. E, se necessário, uma correção equilibrada por mau comportamento.
O espaço voltado para crianças que foi montado em um dos campos de refugiados ficou ótimo. É uma grande tenda azul, acolchoada com um pano colorido no interior. Parceiros locais da Portas Abertas patrocinaram a tenda, todas as pequenas cadeiras apropriadas, os ventiladores para esfriar a barraca e até mesmo os jogos. O pastor Daniel* e as crianças mal podem esperar para começar a usar!
As crianças têm futuro. Estou confiante de que, enquanto elas estiverem saudáveis​​, tanto física como espiritualmente, haverá esperança para este país. As fronteiras étnicas e religiosas são nítidas no Iraque. No entanto, se as crianças de hoje aprendem sobre esperança e amor, elas vão saber como viver em paz uns com os outros. Elas terão a chance de fazer a diferença não só em suas próprias vidas, mas também no futuro do seu país.
Mantenha a Igreja viva no Iraque!
Nos últimos meses, a maioria dos cristãos fugiu do Iraque, principalmente de Mosul. Milhares deles têm sido forçados a abandonar suas casas somente com a roupa do corpo, deixando tudo para trás. O grupo extremista Estado Islâmico (Islamic State, também conhecido como IS, ISIS ou ISIL), em decorrência da guerra, tem como uma de suas missões exterminar o cristianismo e acabar com a Igreja no país.
A Igreja no Iraque precisa de socorro emergencial. Participe do projeto da Portas Abertas de ajuda aos cristãos iraquianos.
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