Antes mesmo de começar a funcionar, um hospital financiado pelo governo iraniano na Bolívia está causando polêmica, depois que funcionárias da instituição foram fotografadas usando véus para cobrir o corpo e a cabeça.
O hospital, que só começará a funcionar em janeiro do ano que vem em El Alto, subúrbio de La Paz, nos Andes, foi inaugurado durante a visita do presidente iraniano, Mahmoud Ahmadinejad, ao país.
As fotos, publicadas nos jornais "El Diário" e "La Razón", causaram polêmica na Bolívia. Nas gravações feitas pelo "El Diário", às quais a BBC teve acesso, duas mulheres confirmam o uso de véus.
Mas, enquanto uma diz que o uso da vestimenta é obrigatório, a outra diz que é facultativo.
"Nos disseram que se quiséssemos ser contratadas no hospital deveríamos usar o véu e bem, não entendo o que isso significa, mas como preciso do trabalho, não temos outra opção", disse uma enfermeira que não quis se identificar.
Já a funcionária administrativa responsável pelos funcionários do hospital, Pou Mount, disse que está usado o véu "como parte do uniforme, sob o conceito de que este é um pedacinho do Irã na Bolíva".
Ela disse que, na entrevista de seleção, foi perguntado se as mulheres "concordavam com as regras" e que "todas concordaram". "Ninguém é obrigada a usar o véu", disse.
Liberdade religiosa
Sob a nova Constituição boliviana, promulgada pelo governo de Evo Morales, "o Estado respeita e garante a todos a liberdade de religião e crenças espirituais, de acordo a visão de mundo de cada um".
Mas, para a ONG Católicas pelo Direito de Decidir, a prática observada no hospital "rompe o princípio básico das liberdades e direitos consagrados nos documentos internacionais dos direitos humanos e ainda mais na Constituição Política do Estado Plurinacional da Bolívia", nas palavras da sua porta-voz, Tania Nava.
O ministro do Trabalho, Calixto Chipana, discorda de que a utilização do véu no hospital financiado pelo governo iraniano represente um desrespeito a esse princípio.
Em entrevista à BBC, o ministro disse que enviou inspetores ao hospital, e que estes não recolheram queixas de uso forçado do véu. "Se houver qualquer reclamação vamos agir", garantiu.
Para Chipana, as denúncias da imprensa boliviana "mais parecem uma guerra contra a ajuda do Irã".
A BBC tentou falar com os diretores do hospital, mas foi informada de que o diretor do hospital, o iraniano Birjandi Masout Maleki, só conversará com a imprensa na segunda-feira.
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