De uma lado Edir Macedo, criador da Iurd (Igreja Universal do Reino de Deus); do outro, a CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil).
A Campanha da Fraternidade de 2008 terá como tema “Fraternidade e defesa da vida” e lema “Escolhe, pois, a vida”, texto do capítulo 30,19 do 5º livro da Bíblia.
A Igreja Católica não fala em não-aborto. Considera um argumento fraco. A defesa é sempre pela vida.
Há cerca de dois meses, a Rede Record, do bispo Macedo, passa propaganda institucional pró-aborto. A mensagem diz que mulheres conquistaram o direito de votar, de trabalhar e por que não poderiam decidir o que fazer com o próprio corpo? Termina com vinheta Record Aborto – Responsabilidade Social.
O homem forte da Iurd declarou no livro “O Bispo – A história revelada de Edir Macedo” ser a favor da interrupção da vida. A obra já é best-seller nacional. Disputa as primeiras colocações entre os mais vendidos com o recém-lançado “Harry Potter e as relíquias da morte”.
No capítulo Mente Controversa, páginas 223 e 224, trata da questão do aborto.
Bispo Macedo afirma que é a favor do direito de escolha da mulher. “Sou a favor do aborto, sim. A Bíblia também é”, afirma. Em seguida pega o livro sagrado e lê para os jornalistas da Record Douglas Tavolaro e Christina Lemos, organizadores da biografia do patrão, trecho de Eclesiastes, capítulo 6, versículo 3. O texto bíblico diz: “Se alguém gerar cem filhos e viver muitos anos, até avançada idade, e se a sua alma não se fartar do bem, e além disso não tiver sepultura, digo que um aborto é mais feliz do que ele.”
Em seguida, o bispo simula situações rotineiras como a de meninas de 12 anos, 13 anos grávidas ou mulheres que jogam o bebê na lata do lixo. Pergunta se não seria melhor se essas crianças não nascessem.
E finaliza: “Eu creio na Bíblia. Nesses casos eu acredito que o aborto é melhor do que nascer.”
Igreja jamais aceitará aborto
A Igreja Católica nunca aceitará o aborto, segundo o bispo de Rio Preto, dom Paulo Mendes Peixoto. Ele afirma que é um preceito bíblico e que a Igreja não passa por cima da Bíblia.
Em entrevista ao BOM DIA, dom Paulo fala de outros assuntos polêmicos e não aceitos pelos católicos, como o método contraceptivo. Afirma que o tema da Campanha da Fraternidade é urgente, uma vez que a legalização do aborto é discutida no Congresso.
O senhor, que tem idéias progressistas, não entende que tratar de dogma na Campanha da Fraternidade é um retrocesso da Igreja Católica?
Dom Paulo Mendes Peixoto – Não. A Igreja sempre vai defender a vida. A Igreja nunca vai mudar de idéia e aceitar o aborto porque isso é bíblico e a Bíblia está acima da igreja. Se lá fala da defesa da vida desde sua concepção, a Igreja vai defender isso.
A escolha desse tema é uma resposta à ofensiva da Igreja Universal em defesa do aborto?
Dom Paulo – A escolha dos temas da Campanha da Fraternidade acontece dentro de uma necessidade urgente. O Congresso quer aprovar lei a favor do aborto. É o momento para refletir e discutir, para essa lei não passar sem ser mastigada.
A Igreja é contrária ao uso de preservativo. Não seria uma forma de colaborar com a Aids?
Dom Paulo – A Igreja é favor do planejamento familiar com responsabilidade. Aceitamos apenas os métodos naturais. Com eles, poderia-se perfeitamente diminuir a maternidade.
Católicas defendem aborto
O Católicas pelo Direito de Decidir, que nasceu em São Paulo, é uma voz dissonante dentro da Igreja Católica. Veio dos movimentos progressistas das pastorais sociais. Defende a opção pelo aborto, de decidir pelo celibato, métodos contraceptivos e orientação sexual. Em entrevista ao BOM DIA, a secretária-executiva das Jornadas pelo Direito ao Aborto Seguro, Dulcelina Xavier, fala sobre o movimento e os pontos que defende.
O que é e quando surgiu o movimento Católicas pelo Direito de Decidir?
Dulcelina Vasconcelos Xavier – Católicas é uma organização não-governamental que tem como princípio a busca pela justiça social, pela igualdade de gênero, a defesa da autonomia das pessoas nos campos da sexualidade e da reprodução. Surgiu no Brasil em 1993.
Qual a posição em relação ao aborto, contraceptivos e orientação sexual?
Dulcelina – O Estado deve garantir políticas públicas para a vivência livre da sexualidade, com saúde e com possibilidade de planejamento da reprodução. Defendemos a ampliação dos serviços de aborto legal e que os outros casos de aborto devam ser descriminalizados e regulamentados para atender todas as mulheres, em especial às pobres, que são as que mais morrem em decorrência de prática insegura.
O movivento é uma voz dissonante dentro da Igreja Católica?
Dulcelina É uma das vozes dissonantes dentro da Igreja Católica. Há muitas outras: Movimento dos Padres Casados, Somos Igreja etc.
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