O avanço da Record nos levantamentos do Ibope da Grande São Paulo obrigou a cúpula da Globo a pegar a ponte aérea. A desculpa era apresentar a nova programação de 2007, que não trouxe nenhuma novidade relevante, já que tudo foi vazado meses antes. O objetivo real era emitir o recado de que a Globo prestigia a imprensa paulistana que cobre o mundo da TV. O tiro saiu pela culatra.
Durante décadas, a Globo dominava as chamadas das revistas de TV. Hoje tem de dividir espaço para produções da concorrência, principalmente da Record. Isso incomoda a emissora carioca, pois indica uma quebra de tradição – abre um precedente perigoso para sua hegemonia. É aquela história: se fechar o olho, perde o jogo. E a Record está jogando pesado, e seu time de “obreiros” escalados para seduzir a mídia já começa a dar resultados.
Na semana passada, a equipe de divulgação da Record fez visitas pelas principais redações do país em São Paulo. É um relevante trabalho de relações públicas. Nos bastidores, a Record está indo atrás, demarcando território, conhecendo a engrenagem da notícia, identificando aliados, cavando espaços. Enquanto isso, a Globo não desce do salto alto, fica encastelada, repetindo velhos esquemas.
Na entrevista à imprensa paulistana desta terça-feira (3), ficou claro que a Globo terá de sambar para recuperar a simpatia dos formadores de opinião. Houve clima de arrogância, prepotência, frieza ou simples grosseria nos contatos. No refeitório do hotel, a equipe da Globo almoçava de um lado, os jornalistas, do outro lado. Era a imagem que resume as relações da maior emissora do país com a imprensa.
Os bastidores da “guerra santa”
Já a Record investe na simpatia interesseira e também copia as estratégias da Globo ao promover suas atrações. No mês passado, a Record convidou jornalistas de São Paulo para uma entrevista no Rio com o elenco de Luz do Sol, sua nova novela. Na hora da apresentação dos atores, Hiran Silveira, diretor-geral de teledramaturgia da Record, pediu que o elenco aplaudisse os jornalistas convidados.
Na sala do hotel escolhido para a entrevista, os atores já esperavam pelos repórteres – um caso raro. Como era o Dia Internacional das Mulheres, a Record distribuiu rosas vermelhas para as jornalistas. São esses detalhes que revelam os bastidores da “guerra santa” entre a católica Globo e a evangélica Record.
Há uma briga de foice por espaços, mas a Globo ainda evita tornar isso público – tanto que nem verbaliza direito o nome da concorrente paulistana (o “canal C”, como se refere a Globo, já que nos levantamentos de dez capitais o SBT ainda aparece na frente da Record). Mas, segundo relatório do Ibope Telereport, a Record aumentou em 18% sua audiência na Grande São Paulo nos três primeiros meses deste ano. Enquanto isso, a Globo perdeu 6%.
A emissora carioca continua líder absoluta e incontestável (tem 19,9 pontos no primeiro trimestre de 2007, enquanto a Record ficou com 6,8). Ainda assim, o slogan “A caminho da liderança” da emissora da Igreja Universal perde, aos poucos, o verniz de provocação megalomaníaca.
Alvo óbvio
“A palavra liderança está sendo mal usada”, replicou no evento desta terça-feira Anco Saraiva, diretor da Central Globo de Marketing. Em mais de duas horas de exposição, o nome da emissora da Barra Funda não foi sequer citado. Contudo, em algumas declarações, o alvo era óbvio – não precisava ser citado.
O diretor-geral da Globo, Octávio Florisbal, chegou a dizer que a Globo vai investir mais no seu banco de artistas, “que vem sendo assediado pela concorrência”. Funcionários e ex-funcionários da Globo, como Toni Garrido, Eduardo Lago e Patrícia Travassos, fecharam acordo contrato com a Record no último mês.
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