Na edição do dia 22 de outubro de 2009, a revista The Economist publicou uma matéria tratando sobre a gravidade da perseguição religiosa na Somália, analisando suas razões e indicativos. Leia abaixo o texto na íntegra:
Onde é o pior lugar do mundo para ser cristão? Talvez a Coreia do Norte? Arábia Saudita? Tente a Somália. Estima-se que existam menos de mil cristãos em uma população de 8 milhões de pessoas, com um pouco mais de mil no exílio. A milícia islâmica Shabab, que controla a maior parte do sul da Somália, está decidida a persegui-los.
Cristãos freqüentam as mesquistas às sextas-feiras, para não levantar suspeitas. Bíblias são escondidas. Não há reuniões públicas, igrejas católicas e cemitérios foram destruídos. As últimas freiras da capital foram “caçadas” em 2007. No ano anterior, uma enfermeira idosa que trabalhava em um hospital foi assassinada. Os únicos cristãos que restaram são somalis nativos.
Prender e matar os cristãos é uma propaganda útil para o Shabab, e também para ensinar seus militantes e homens-bomba que a América, Inglaterra, Itália, o Vaticano, juntamente com a Etópia e o Quênia, todos são “expedicionários” tentando converter os somalis ao cristianismo, e que a ONU se esconde atrás deles de forma abominável. Israel, é claro, também faz sua parte para minar o islamismo.
O governo inconstante dirigido pelo Sheikh Sharif Ahmed, cuja lei é muito fraca no território que não é dominado pelo Shabab, não irá responder por qualquer cidadão que for pego com uma Bíblia. Apesar de professar moderação, ele defende uma versão da sharia (lei islâmica) segundo a qual todos os cidadãos da Somália nascem muçulmanos e qualquer um que se converte a outra religião é culpado de apostasia, crime punível de morte.
Todos os meses, muitos somalis são mortos por serem cristãos. Às vezes, esse é somente uma desculpa para que os jihadistas perseguirem as pessoas suspeitas de trabalhar para a Inteligência etíope. Mas muitos são simples cristãos. De acordo com fontes somalis e grupos cristãos estrangeiros que monitoram a Somália, pelo menos 13 membros de igrejas clandestinas foram mortos nos últimos meses. A maioria era menonita¹, evangelizados por missionários no rio Juba, sul da Somália.
Entre eles, uma mulher de 46 anos que foi baleada depois que encontraram uma Bíblia em sua cabana; um senhor de 69 anos foi morto próximo a um porto em Mogadishu depois que militantes do Shabab encontraram 25 Bíblias somalis em sua bolsa; dois meninos, de 11 e 12 anos, foram decapitados pelo Shabab depois que seu pai se recusou a divulgar informações sobre uma igreja clandestina. Centenas de somalis foram mortos por serem cristãos desde que o Shabab surgiu em 2005.
Tais atrocidades – e relatos de que o Alcorão era lido para as vítimas, mesmo no momento da decapitação – estão perturbando os cristãos evangélicos na América. O governo de Ahmed precisa de dinheiro para se sustentar. Mas se ele falhar em sugerir que os cristãos devem ser tolerados, vai perceber que o Congresso Americano estará cada vez mais relutante em ajudá-lo.
¹ pertencente à seita protestante do cristianismo que prega vida simples e se nega ao batismo
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