Salvo do Holocausto por família evangélica cria operação para levar a Europa sírios cristãos
Lorde Weidenfeld escapou da Áustria nazista em 1938, antes da Segunda
Guerra Mundial. Judeu, tinha, então, 19 anos, e foi adotado por uma
família de cristãos evangélicos em Londres. Agora, deu início a um
projeto para resgatar cristãos ameaçados por fundamentalistas islâmicos
no Oriente Médio.
Weidenfeld, de 96 anos, criou a operação Safe
Havens (Refúgio Seguro, em tradução literal), que ajuda cristãos a se
realocarem na Europa.
Muitos enfrentam o risco de se tornarem
prisioneiros de grupos radicais, como a Frente Al-Nusra, ligada à
Al-Qaeda, e o autodenominado "Estado Islâmico", que anunciou em 2014 a
criação de um califado em partes da Síria e do Iraque.
Acredita-se
que cristãos representavam 10% da população de 22 milhões de sírios
antes do conflito, iniciado em 2011. Até 40 mil deles eram assírios.
O
projeto Safe Havens tem o apoio de outros colaboradores judeus e já
contribuiu com a retirada de 50 famílias sírias, que foram levadas à
Polônia.
A iniciativa deu-se após Weidenfeld considerar que a
ajuda dada a cristãos era "insuficiente" e que deveria retribuir a ajuda
que recebeu.
"Quando eu ouvi o que estava sendo feito a cristãos
(na Síria) achei que a ajuda que estava dando a eles (sob o "Estado
Islâmico") era insuficente. Então, pensei que eu deveria fazer alguma
coisa", disse ele, em entrevista ao programa Hard Talk, da BBC.
"Devido
a minha experiência em ter sido ajudado por cristãos, me senti
pessoalmente obrigado a ajudar os cristãos da minha maneira modesta".
Estima-se que o custo de financiar uma família de cinco pessoas por um ano na Europa seja o equivalente a R$ 121 mil.
O
"Estado Islâmico" aplica uma versão extrema do sunismo e tem ameaçado
cristãos em áreas sob seu controle. Dezenas de cristãos assírios foram
sequestrados pelos militantes neste ano na Síria e acredita-se que cerca
de mil famílias assírias deixaram suas casas no país.
O "EI"
oferece a cristãos moradores de áreas sob seu controle três opções:
conversão ao Islã, pagamento de uma taxa religiosa ou o risco de serem
executados.
Weidenfeld disse ter sido recebido por uma família
cristã-evangélica de funcionários públicos em Londres após a Áustria ser
anexada pela Alemanha nazista. "Tive a sorte de sair", disse.
Anos depois, em 1949, fundou a editora Weidenfeld and Nicolson, uma das mais conhecidas na Grã-Bretanha.
'Obama responsável' por problemas
O
conflito na Síria criou um grande fluxo de refugiados. Estima-se que
mais de 4 milhões de sírios deixaram o país, e a maioria mudou-se para o
Líbano e a Turquia.
Mas muitos tentam chegar à Europa, fazendo a
perigosa travessia de barco no Mediterrâneo ou à pé, cruzando diversos
países. O fluxo é o maior no continente desde a Segunda Guerra Mundial.
Weidenfeld
rebate críticas feitas ao projeto, de não oferecer a mesma ajuda para
muçulmanos que também enfrentam risco de grupos extremistas.
Segundo
Weidenfeld, a situação enfrentada por cristãos é "injusta e eles não
têm apoio suficiente". Já muçulmanos têm "áreas seguras próximas, estão
sendo ajudados logisticamente e uma grande quantidade de dinheiro está
sendo oferecida".
O lorde é ainda crítico à atuação do presidente
dos Estados Unidos, Barack Obama, no Oriente Médio: "eu o
responsabilizo pelo o que está acontencendo hoje" na região, disse ele.
"A
liderança americana não está lá... Obama não tem talento ou
conhecimento de assuntos internacionais. Ele pode ser bom para assuntos
internos, mas não tem talento ou conhecimento de assuntos
internacionais. Ele é inocente".
Segundo ele, a posição de Obama "enfraqueceu e alienou" alguns de seus aliados.
Os
Estados Unidos lideram uma coalizão internacional que tem realizado
ataques aéreos contra alvos do "Estado Islâmico" na Síria desde setembro
de 2014.
No mês passado, a Rússia iniciou ataques aéreos e de
mísseis contra alvos na Síria. Moscou diz que o objetivo é atingir o
"EI", mas os Estados Unidos e aliados afirmam que os militantes têm
pouca ou nenhuma presença nas áreas atacadas.
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