“O Saddam Hussein nos dava um pedaço de pão; o George Bush nos roubou o prato vazio”. A análise sobre a transição do poder no Iraque é do pastor Farite, membro da igreja evangélica em Bagdá que participa de um encontro de missionários em Campo Grande. Para ele, o ditador enforcado em 30 de dezembro do ano passado e o presidente dos Estados Unidos, que nesta sexta-feira visita o Brasil, “são diferentes rostos para um mesmo corpo”. O pastor disse ser vítima de ameaça e não permitiu imagens.
Na busca pelo poder, um teria atuado com uma violência sem máscaras, o segundo, se valido da força invocada pelo desejo da democracia para dominar. “O exército americano ocupou o país apoiado pelas forças militares do Iraque e por seu povo. Disseram que ficariam 90 dias”, recorda o pastor Khalil Assad, de 52 anos.
Nascido no Líbano, Khalil veio para o Brasil, onde se naturalizou, em 1976 e passou a morar no Iraque em 1985. Ele conta que o interesse em vir para o Brasil surgiu quando se decidiu pelo cristianismo, pois até os 18 anos o jovem dividido entre a parte cristã e a parte islâmica da família não possuía religião.
Em 1985, a guerra já não era novidade no território iraquiano. “A guerra era de vizinhos e acontecia na fronteira com o Irã. O Iraque não era um país ocupado”, enfatiza. Vinte e dois anos depois, Khalil constrói um cenário trágico para descrever o país em que vive durante seis meses por ano. “Você está em um lugar conversando, mas sempre há o risco de um carro próximo explodir”. Pelas ruas, a visão é atravessada por pedaços de corpos. Para os que sobrevivem, não há água nem energia.
“O país está completamente destruído. Não há mais rico ou pobre, todos vivem na miséria. Os americanos entraram para matar, roubar e destruir”, salienta Khalil. Ele aponta que além da ocupação, há a guerra ideológica entre a minoria satisfeita e a maioria que não concorda com o estilo americano de democracia.
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