O Rio clama pela libertação da festada carne. Contaminados por maus hábitos, como o fumo e a bebida – e, na elite, o consumo de cocaína – os cariocas vivem dias de pobreza espiritual.
O lamento acima, do ministro da Palavra Ângelo Olivier, ecoa há tempos nas igrejas evangélicas. Mas, desde janeiro do ano passado, a pregação ganhou novo horizonte. O grupo Evangelize no Pan, coordenado por Olivier, arrebanhou, em um ano e meio, 8 mil voluntários, agora distribuídos nas portas de cada instalação esportiva usada na competição. Em uma semana de trabalho, segundo Olivier, mais de 50 milhões de folhetos já teriam sido distribuídos.
Para participar da pregação, os voluntários desembolsaram R$ 25 em um kit que inclui camisa, material evangélico e hospedagem em escolas particulares controladas pelas igrejas participantes. Passaram, também, por seis meses de treinamento para responderem dúvidas do público.
– Queremos espalhar a Bíblia em pedacinhos – empolga-se Ângelo. – Cobramos apenas para compensar os gastos com material. As igrejas têm muitos iniciativas, não podemos olhar apenas para os pastores safados.
Além do projeto Evangelize no Pan, algumas participantes resolveram agir por conta própria. A Igreja do Evangelho Quadrangular espalhou 200 agentes pelos principais estádios do Pan. Em Copacabana, o grupo é liderado por uma figura não muito convencional. Lelo, quatro piercings no rosto, dois brincos vistosos e 10 anos de congregação, não gosta de números. Evita dizer quantas pessoas aborda e garante não ligar para doutrinas.
– Creio na igreja como lance social, tá ligado? – explica. – Não me preocupo com a instituição, mas com as pessoas. Minha missão é amenizar o caos.
Como a maioria dos religiosos, Lelo é contra as drogas e defende a virgindade até o casamento. Só discorda dos colegas quando o assunto é música gospel. Com raras exceções, não gosta das mensagens cantadas sobre Jesus. Prefere “coisa pedreira”.
– Onde congrego tem shows punks metendo o malho nas religiões – conta. – Até já tivemos de conversar com os grupos.
Nas bilheterias, alvo em potencial dos voluntários, as abordagens provocam polêmica.
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