Ossos que se supunha serem os restos mortais da heroína francesa Joana D’Arc, morta no século 15, são na verdade de uma múmia egípcia e de um gato – diz um estudo.
Em 1867, um vidro foi encontrado no sótão de uma farmácia parisiense com um rótulo dizendo que o material dentro do recipiente eram os restos mortais da heroína.
Exames científicos indicam que os fragmentos datam do período entre o terceiro e o sétimo séculos antes do nascimento de Cristo.
O estudo está incluído na mais recente edição da revista científica “Nature”.
O cientista Philippe Charlier, que coordenou a pesquisa, disse à revista: “Nunca pensei que (os fragmentos) pudessem ser de uma múmia”.
A heroína nacional da França – canonizada em 1920 – foi condenada por heresia e bruxaria e queimada viva em 1431, aos 19 anos.
Os “restos mortais” teriam sido encontrados no poste onde ela foi queimada na cidade de Rouen, na Normandia.
Os especialistas acreditam que a falsa noção de que os fragmentos pertenciam Joana D’Arc tenha sido criada para dar impulso ao movimento de beatificação de Joana D’Arc em 1909.
Os fragmentos são uma costela humana queimada, pedaços de madeira queimada, um pedaço de linho com 15 centímetros de comprimento e um fêmur de gato.
Na Europa medieval era comum atirar gatos pretos nas fogueiras onde se queimavam as supostas bruxas.
O material, considerado genuíno e sagrado pela Igreja Católica, está exposto em um museu na cidade de Chinon.
Teste do Nariz
No ano passado, o pesquisador Philippe Charlier, do Hospital Raymond Poincare em Garches, perto de Paris, obteve permissão da Igreja Católica da França para estudar os fragmentos.
Ele usou várias técnicas científicas para analisar material.
E verificou que tanto os fragmentos humanos quanto o do gato haviam sido mumificados e datavam do mesmo período.
O material continha também pólen de pinheiros, provavelmente proveniente de resinas usadas para embalsamamento no Egito Antigo.
Não havia pinheiros na Normandia no século 15.
Além dos vários testes científicos usados, Charlier também contratou dois especialistas em perfumes, Sylvaine Delacourte e Jean-Michel Duriez.
Eles tiveram de cheirar os restos mortais e também outras nove amostras de ossos e de cabelo. O material não foi previamente identificado.
Os dois especialistas perceberam notas de baunilha e de gesso nos fragmentos atribuídos à Joana D’Arc.
O cheiro de gesso confirma relatos de que a heroína teria sido queimada em um poste de gesso – um recurso usado na época para fazer o “espetáculo” durar mais tempo.
Mas o aroma de baunilha contradiz o argumento. Ele vem do componente vanilina, liberado durante o processo de decomposição de um corpo.
Uso Médico
A crosta negra cobrindo a costela e o osso do gato não foi criada pelo fogo. O estudo revelou que ela é proveniente de resinas de madeira, betume e outras substâncias usadas no embalsamamento.
Na Idade Média e posteriormente, pó feito de restos de múmia era usado como remédio para tratar problemas do estômago e de sangue.
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