Proposta do Ministério da Educação para currículo nacional faz critica a ensino religioso
A proposta de currículo nacional apresentada pelo Ministério da Educação
na semana passada faz crítica ao ensino religioso nas escolas públicas e
defende a necessidade de "salvaguardar" a liberdade de expressão
religiosa e não religiosa em sala de aula.
No 3º ano do
fundamental, por exemplo, o professor deve mostrar ao aluno que
"representações das divindades são construções humanas, elaboradas em
função das experiências religiosas".
No 8º ano, o estudante deve
"perceber os limites e possibilidades da atuação de grupos religiosos em
um Estado laico". No ano seguinte, serão abordados "os sentidos e
significados da vida e da morte" para ateísmo, niilismo e ceticismo, por
exemplo.
O texto é uma primeira proposta para o conteúdo que
deverá ser ensinado dentro das salas de aula de todo o país, desde a
educação infantil até o ensino médio.
Ele ficará em consulta pública até o fim do ano e então será encaminhado ao Conselho Nacional da Educação.
DEBATE
O
debate sobre o conteúdo do ensino religioso gerou um questionamento no
Supremo Tribunal Federal. Caberá à Corte apontar se as aulas devem ter
caráter confessional (sobre uma religião específica ou mais) ou não. O
primeiro rascunho do currículo opta pela segunda opção.
"O ensino
religioso não pode ser concebido como ensino de uma religião ou das
religiões na escola", afirma o documento. Ele aponta que, diante da
"diversidade cultural religiosa" presente no ambiente escolar, é preciso
"erradicar práticas e relações de poder que buscam homogeneizar os
diferentes".
Essa mesma posição é defendida pela entidade que
reúne secretários estaduais de educação. "Como passa a ser uma
orientação nacional, não tem mais espaço para fazer algo diferente
disso", afirma Eduardo Deschamps, presidente do Consed (Conselho
Nacional de Secretários de Educação).
O tema é alvo de
divergência entre diferentes religiões: enquanto entidades como CNBB
(Conferência Nacional dos Bispos do Brasil) defendem o ensino
confessional, a Igreja Universal do Reino de Deus e a Federação Espírita
Brasileira já se posicionaram contrários ao ensino de uma ou mais
religiões.
RASCUNHO EXTENSO
O plano do
MEC era fazer um documento com diretrizes mais gerais. Coordenadores do
trabalho afirmaram que o texto de 302 páginas –e que ainda não
contempla, por exemplo, as diretrizes para a área de história– ficou
mais extenso que o desejável, mas deve ser reduzido.
O próprio ministério retirou a íntegra da base nacional comum do site porque o texto será reformulado.
A
pesquisadora Paula Louzano afirma que o currículo é um avanço para o
Brasil. Avalia, no entanto, que faltou mais interligação entre as
disciplinas e mais expectativa sobre o que deve ser aprendido em cada
ano da vida escolar.
"Um currículo que nivela para baixo não ataca a desigualdade. A escola particular vai fazer aquilo e mais", diz.
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