Lula diz não a casamento oficial com o Vaticano. Apesar do pedido de Bento XVI, presidente afirma que não fará do Catolicismo a religião do País. Brasil continuará sendo Estado Laico. Ainda não foi desta vez que o Papa Bento XVI conseguiu ouvir o ‘sim’ que tanto espera do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Em reunião realizada ontem, no Palácio dos Bandeirantes, em São Paulo , o que o Santo Padre ouviu foi um sonoro ‘não’ de Lula, quando tentou convencê-lo a transformar o Brasil num Estado Confessional, onde a religião oficial do País seria a católica.
Durante o encontro, que durou cerca de uma hora e foi acompanhado pela primeira-dama, Marisa Letícia, e pelo governador de São Paulo, José Serra, Lula avisou ao Papa que vai preservar e consolidar o Estado Laico, onde a população tem liberdade para escolher sua crença. “Vamos continuar tendo a religião como um instrumento para tratar do espírito e de temas sociais”, garantiu o presidente, ao sair da reunião, que acabou em um impasse.
Segundo a embaixadora do Brasil no Vaticano, Vera Machado, a resposta de Lula não desanimou Bento XVI, que mantém as esperanças de fechar o acordo sobre o assunto até 2010. Segundo Vera, temas polêmicos como o aborto e o uso de preservativos sexuais, ambos condenados pela Igreja Católica, não foram mencionados no encontro, marcado por cordialidades e troca de presentes de ambos os lados.
BOFF: ‘UMA OFENSA’
A proposta de mudança feita pelo Papa ainda foi duramente criticada pelo teólogo Leonardo Boff. Punido com um ano de silêncio pelo então cardeal Joseph Ratzinger (hoje Bento XVI), Boff disse que o pedido do Santo Padre deve ser considerado uma ‘ofensa ao País’.
“Aceitar um pedido como esse seria atraso civilizatório. Seria antidemocrático privilegiar uma religião diante das outras que têm representação no Brasil. O pedido chega a ser agressivo, porque os brasileiros teriam cassado o direito de escolher sua religião”, acrescentou.
Autor de mais de 60 livros, Boff sofreu processo junto à Congregação para a Doutrina da Fé, antigo Tribunal do Santo Ofício (Inquisição), por causa de livro que critica a estrutura de poder e funcionamento da Igreja Católica.
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Antes de encerrar a reunião, o presidente Lula conversou com o Pontífice sobre o ‘processo de degradação da estrutura familiar brasileira’, e aproveitou para lhe apresentar dados sobre o Programa Bolsa Família, do governo federal. Lula pediu que o Papa fosse uma espécie de ‘garoto-propaganda’ do programa, no mundo. Coordenado pelo Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome, ele beneficia famílias pobres, com renda de até R$ 120, por mês, por pessoa, com o pagamento de bolsas que variam de R$ 15 a R$ 95.
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