Devocional escrito por Durvalina Bezerra. Este texto foi publicado na revista Portas Abertas, edição de janeiro de 2012
Estamos vivendo em um tempo marcado pela globalização, relativismo, pluralismo – uma cultura humanista e individualista. A sociedade se materializou, os sistemas totalitários e as religiões fundamentalistas inibem e perseguem o avanço do evangelho. O descrédito do cristianismo no ocidente e sua rejeição no oriente nos conclamam a rever nosso modelo missionário. Não podemos mais cumprir a missão apenas pela proclamação, pelo modelo gerencial, ou transplantando a placa denominacional para fincar a bandeira, como fizeram os colonizadores.
Os países fechados, como a China e muitos outros onde a missão Portas Abertas trabalha, nos fazem refletir sobre um modelo de missões que seja eficiente e alcance as pessoas dentro do seu contexto religioso e sociocultural.
A antropologia missionária tem estudado a realidade de cada povo e as variadas formas de contextualizar a mensagem, dando ênfase ao preparo do missionário do século XXI, para que ele possa cumprir a missão de forma relevante e eficaz.
Para oferecer um preparo de qualidade, alcançando o ser pessoal na sua integralidade, o missionário deve ser formado em quatro dimensões.
Preparo acadêmico - mente de um teólogo. O missionário precisa saber pensar teologicamente, não apenas para expor as verdades da revelação divina, mas para fazer a apologia, saber coordenar os argumentos da fé cristã diante dos opositores, diante dos inquiridores e dos sedentos da verdade, como o etíope, que queria entender, mas precisava de alguém que lhe fizesse a explanação clara e compreensível da Palavra Sagrada. Filipe expôs-lhe a Escritura. Ele se ateve à revelação veterotestamentária, fazendo a interpretação correta da Palavra, colocando a verdade do texto frente ao cumprimento da promessa. E, assim, anunciou-lhe Jesus. não a sua eclesiologia institucionalizada, mas o Cordeiro, o servo sofredor, o redentor do mundo (At. 8.30-35; I Pd.3.15).
Desenvolvimento espiritual - coração de um místico. O missionário deve ser treinado nas faculdades íntimas, no campo da espiritualidade, na relação com Deus. Antes de qualificar-se em qualquer matéria, deve ser diplomado nas disciplinas espirituais, na prática do momento devocional, ou sozinho com Deus; aguçar a audição espiritual; desenvolver a prática da oração, para fazer da comunicação com o Pai a principal obra do ministério; concentrar-se na adoração e, através do louvor, expressar um coração grato, encontrando em Deus a plena satisfação e o sentido da vida; encontrar-se com Deus e ser encontrado em Deus, para expressar a sua vida aos homens (Mt. 6.6-8; Js.1.8; Fp.3.8-11).
Treinamento prático - coragem de um desbravador. Expor os vocacionados à prática é dar-lhes a oportunidade de desenvolver a coragem. Eles precisam ser ousados, como foram e são os pioneiros que ultrapassam as fronteiras, principalmente aqueles que trabalham em campos de risco e se expõem em países onde há perseguição. O missionário necessita ser corajoso para enfrentar o perigo, as frustrações, as dificuldades do próprio ministério. Coragem para encarar o desconhecido, para deixar a família, irmãos e amigos e viver com um povo de costumes diferentes; coragem para ir com o sustento mínimo e sem certeza que lhe dê segurança de coisa alguma, exceto a certeza da fé naquele que o envia e que é fiel para guardá-lo e preservá-lo firme, com a mão no arado, sem olhar para trás, até cumprir o ministério que recebeu do seu Senhor (Js. 1.9; At. 20.24).
Vivência grupal - humildade de um santo. Desde o tempo de preparo, o vocacionado é chamado a fazer de um grupo de irmãos, até então desconhecidos, a sua família. No campo, a realidade é a mesma. o modelo de trabalho em equipe continua sendo a melhor forma de servir. Este tem sido um grande desafio para todos os enviados, principalmente para os solteiros que se agregam a famílias. A convivência com pessoas de diferentes níveis de educação, cultura, pontos doutrinários divergentes, com dons distintos e diferentes na formação não é nada fácil. É necessário ser tratado na personalidade, trabalhado nas emoções e treinado na humildade (Mt.11.29-30; Jo.13.4-17).
O equilíbrio nessas áreas de preparo é fundamental, para que o obreiro não tenha de que se envergonhar (caráter, atitudes e valores) e seja capaz de manejar bem (capacitação e habilidade) a Palavra da Verdade (II Tm. 2.15).
Durvalina B. Bezerra é diretora do Seminário Teológico Evangélico Betel Brasileiro, vice-presidente da AME – Associação Missão Esperança, escritora e conferencista.
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