“Não deixe que eles façam de Deus alguém indiferente aos nossos pecados!”
Estas foram as palavras de despedida para mim no aeroporto de Bombaim. Quem as proferiu foi um evangelista cristão indiano. Ele tinha uma opinião bastante pontual sobre as igrejas ocidentais. Depois de visitá-las, ele confidenciou: “Eles conseguiram transformar um Deus perigoso em um Deus seguro. Ao invés de um Deus que arde em fúria contra a hipocrisia, a idolatria e a injustiça, eles têm um Deus que ignora todos os nossos defeitos e apenas continua a nos amar com um ar desinteressado, que parece não se importar se estamos agindo contra a sua vontade ou não”.
Os perseguidos não nos deixam esquecer que conhecer a Deus acaba trazendo caos, e não segurança, porque o evangelho do Senhor é muito subversivo. Jesus deixou isto claro quando compartilhou: “Não pensem que vim trazer paz à terra; não vim trazer paz, mas espada. Pois vim para fazer que ‘o homem fique contra seu pai, a filha contra sua mãe, a nora contra sua sogra; os inimigos do homem serão os da sua própria família’.” Mateus 10.34-36.
A vida do evangelista indiano prova este ponto. Ele costumava trabalhar como guia em um rio na cidade hindu de Varanasi. Era seu trabalho enfileirar turistas ao redor do rio, especialmente ao nascer do sol, para que pudessem tirar fotos do sol da manhã brilhando sobre as linhas gigantes dos degraus do templo. Mas ele estava envolvido em um comércio muito mais sinistro ao mesmo tempo. Seu empregador insistiu que ele prestasse serviços sexuais para turistas que contratavam o barco e, logo, ele não teve escolha a não ser tornar-se um prostituto.
Depois de alguns anos vivendo dessa forma, ele recebeu o evangelho, como resultado de um encontro com um turista. Depois de se tornar cristão, ele disse: “Me senti aliviado em saber que não teria que me comportar daquela forma novamente. De repente, todo um novo conjunto de escolhas se abriu para mim. Mas eu também estava apreensivo – as escolhas que agradavam a Deus não iriam agradar mais ninguém”.
Seu empregador o fez ser espancado por bandidos. Mas ele se recusou a voltar a trabalhar como prostituto. Assim, foi-lhe dito: “Você não consegue fazer dinheiro algum trabalhando como guia”. Ele foi demitido e logo teve que sair da cidade.
No começo, ele voltou para a sua família, mas eles não estavam felizes em vê-lo, uma vez que o rendimento de seu salário, do qual ele sempre lhes enviava uma quantia, não estava mais disponível. Sua mãe lamentou: “Vendemos você para que você pudesse cuidar de nós em nossa velhice, e agora você está seguindo um deus mau que fez você se recusar a nos ajudar”.
Ele estava convencido de que deveria voltar para Varanasi e trabalhar para libertar todos os outros escravos sexuais. Ele começou a criar um banco para que os trabalhadores mal pagos pudessem pegar empréstimos a taxas de juros razoáveis, e não terem que ir a agiotas que os mantinham na escravidão financeira. Ele disse: “Jesus Cristo me deu liberdade, e agora eu quero lutar pela liberdade de outras pessoas. Eu tenho de fazer isso! Jesus nos faz puros e sagrados, e não é certo que seus filhos sejam comprados, vendidos e utilizados como gado”.
Ele ainda luta. Sobreviveu a duas tentativas de assassinato. Sua esposa teve ácido jogado sobre seu corpo por bandidos contratados pelos líderes das redes de prostituição. Este homem é impulsionado pelo amor por um Deus que está determinado a libertar seus filhos. Ele acrescentou este importante qualificador: “Uma pessoa na Índia não é perseguida porque se torna cristã; ela é perseguida porque, ao se tornar cristã, passa a se recusar a aceitar o sistema de castas”.
E isso traz perigo.
“Não deixe que eles façam de Deus alguém indiferente aos nossos pecados!”, ele me disse, e suas palavras muitas vezes ecoam na minha mente. Fiquei imaginando o que ele quis dizer até que, em uma visita a Nova York, em um domingo, ouvi dois pregadores no mesmo dia. David Wilkerson afirmou em um dos cultos: “As igrejas deveriam ser lugares onde Deus é livre, mas, muitas vezes, elas se tornaram lugares onde Deus está domado”.
Então, eu frequentei uma igreja muito elegante que tinha convidado o sociólogo norte-americano e cristão Tony Campolo para falar. Enquanto ele falava, usou um palavrão. Houve uma vibração visível na plateia. Uma mulher atrás de mim disse audivelmente: “Vergonhoso”. Chocado, ele olhou para nós no silêncio e disse: “Vocês sabem o que realmente me enoja? Há vinte e quatro mendigos nas ruas de sua igreja, e neste mesmo bloco, crianças de 13 e 14 anos estão sendo abusadas por homens violentos, mas, a maioria de vocês ficará mais ofendida pelo meu uso da palavra do que pelo pecado que os rodeia”.
É verdade que, quando o pecado das ruas não nos move e frequentamos igrejas sem nunca sermos despertado para fazer algo em relação aos pobres, necessitados e perseguidos, Deus nos foi apresentado como alguém indiferente à injustiça. Mas isso não expressa a realidade dos fatos!
Deus quer que a gente se levante contra o pecado. Ele nos prometeu que segui-lo nos levaria a uma luta. E, a luta virá sobre nós ao percebemos o quão subversivo seu evangelho realmente é. Deixe os cristãos perseguidos te ajudarem nas batalhas que irá enfrentar.
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