O teólogo peruano Gustavo Gutiérrez, um dos iniciadores da Teologia da Libertação, disse que a pobreza é contrária à vontade de Deus. Gutiérrez ministrou palestra sobre a jornada da Igreja latino-americana nos últimos 40 anos, desde a II Conferência de Medellín até a V Conferência de Aparecida.
A palestra foi proferida aos participantes da Oficina de Teologia, Evangelização e Comunicação, evento realizado em Lima, no Peru, de 22 a 24 de junho, promovido pela Organização Latino-Americana e Caribenha de Comunicação (OCLACC), com o apoio de organizações cristãs de comunicadores.
Durante o encontro com os comunicadores de vários países do continente, Gustavo Gutiérrez assinalou que o documento de Aparecida não constitui “nenhuma surpresa”, porque o que nela foi incluído tem vinculação direta com a vida da Igreja latino-americana desde Medellín.
Para o teólogo, os aspectos mais importantes do Documento de Aparecida podem ser resumidos em três itens fundamentais, como a recuperação do método “Ver, julgar e agir”, que se perdeu na Conferência de Santo Domingo. Esse método permite realizar uma leitura dos sinais dos tempos, o que ajuda a ver a realidade a partir dos mais frágeis da sociedade, à luz do capítulo 25 do Evangelho de São Mateus.
Na perspectiva de Gutiérrez, o segundo item está vinculado ao desafio representado pela pobreza que, segundo Medellín, é anti-evangélica, constituindo um “desafio à fé e à comunicação da fé”. O pobre é “o que não conta, o insignificante”, assinalou, ao concluir que, sob a perspectiva bíblica, a pobreza é contrária à vontade de Deus.
A modernidade é um desafio à fé, um fato histórico. A pobreza é igual à morte, e “não se pode estar com os pobres sem lutar contra a pobreza”, disse o teólogo ao destacar que Aparecida continua com a opção preferência da Igreja latino-americana pelos pobres. O amor de Deus é universal e preferencial, explicou. Nessa dimensão, disse, é que se deve entender a opção pelos pobres, que corresponde a uma opção centrada em Cristo e teocêntrica.
Um terceiro item está relacionado à comunicação do Evangelho, comunicação que deve ter repercussões sociais na história, disse. Segundo o teólogo, no Documento de Aparecida consta que a Igreja é “advogada dos pobres” e da justiça. É preciso reconhecer o pobre como dono de seu destino e agente de sua própria história, apontou.
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