O movimento moderno de desigrejados vem ganhando certo destaque entre os evangélicos após a detecção, pelo IBGE em 2010, da existência do que o instituto chamou de “evangélicos não-praticantes”. E como não poderia deixar de ser, o tema é delicado, pois envolve inúmeras questões paralelas. Por outro lado, não pode ser minimizado, muito menos ignorado.
O reverendo Augustus Nicodemus Lopes, da Igreja Presbiteriana, fez um vídeo comentando a questão, e de forma equilibrada, tratou de abordar os motivos que levam as pessoas a se tornarem desigrejadas.
Lopes apontou que em muitos casos, o afastamento do fiel da comunidade de fé acontece por um aborrecimento, e em outros, por protesto contra o superdimensionamento da instituição.
“Vamos começar definindo os desigrejados […] Esse termo é muito amplo e há diversos tipos de desigrejados. Você pode chamar de desigrejado aquela pessoa que frequentou alguma igreja e teve uma decepção ou receou-se ou se frustrou com alguma coisa, algum problema pessoal e se afastou da igreja. Está desiludida da igreja. Prefere ficar em casa, em casa lê a bíblia e ora. Tenta levar a vida cristã sozinha. Ela se alimenta do que ela ouve na internet, sermões, vídeos, pregações, mas ela não quer saber de frequentar uma igreja por causa dessa decepção que ela teve”, disse, deixando claro que esses cristãos não são apóstatas.
No caso das pessoas que protestam contra os escândalos causados por líderes inescrupulosos, o reverendo ponderou que a situação termina com dois erros de partes distintas: o primeiro, da instituição religiosa, que se torna um fim em si mesma; e um segundo, dos que se afastam, e terminam por deixar de observar alguns mandamentos bíblicos.
“O termo desigrejado também é usado hoje por um movimento que conscientemente ataca a igreja como instituição, que diz que a igreja é uma instituição humana; que ela tem origem em Constantino – o imperador que ‘legalizou’ o cristianismo como religião oficial no Império Romano -; que a igreja acabou virando quase que uma empresa, porque ela está presa a um templo, está presa a um CNPJ, ela tem regulamento, ela tem pessoal pago, ela pede o dízimo, ela vive de ofertas dos fiéis”, enumerou. “E ai há muitas críticas que são feitas à igreja como instituição. E esses desigrejados se reúnem em casas, se reúnem em grupos em qualquer lugar, em qualquer situação e evitam a institucionalização desse grupo”, acrescentou.
De acordo com o reverendo, essa ideia de igreja minimamente estruturada “não é nova”, e já marcou presença no tempo: “Na história da igreja, nós encontramos grupos dentro da Reforma Protestante que queriam uma organização informal ou com quase nenhuma organização em suas comunidades e assim por diante […] O que nós dizemos é o seguinte: sem dúvida nenhuma, na hora que as igrejas se institucionalizam e viram empresas, alguma coisa está errada. Mas, a comunidade de cristãos precisa de um mínimo de organização. Jesus mandou batizar, Jesus mandou discipular, Jesus disse que tinha de ter disciplina, que se o irmão pecasse e não se arrependesse tinha de ser excluído, Jesus falou da liderança da igreja, o apóstolo Paulo constituía presbíteros e diáconos. Então, tudo isso implica um mínimo de estrutura para que você obedeça essas ordens do Senhor Jesus”, explicou.
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