Em entrevista à Radiobrás, o pastor Carlos Winterle, um brasileiro que vive em Nairóbi, contou que pelo menos mais duas igrejas cristãs foram queimadas e relatou como está a situação na capital. Missionário da igreja luterana no país, Winterle diz que a expectativa é de que até terça haja tumulto. .
"A polícia está impedindo as pessoas de ir ao centro da cidade e nossa igreja fica exatamente no Parque Uhuru, onde são as grandes concentrações. Não sei se poderemos ter culto no final de semana", lamenta.
Ele conta que desde o dia 26 de dezembro a família está reclusa em casa. Só saiu duas vezes e de forma rápida, no dia 31 e na quarta-feira para ir ao supermercado.
"Mas a situação é de um silêncio constrangedor no mercado, todos apressados, comprando alimentos para fazer estoque em casa, prevendo dias piores. Pão, frutas e verduras, à medida que são colocados no balcão, desaparecem nas mãos dos consumidores. No país vizinho, Uganda, já começa a faltar combustível, pois depende do abastecimento rodoviário do Quênia", conta o pastor.
Igrejas anglicana e luterana são incendiadas
De acordo com Winterle, só ontem foram liberadas imagens ao vivo na televisão. Foi por meio do noticiário que ele ficou sabendo que mais duas igrejas foram queimadas, em Kibera, maior favela do país. "Queimaram uma igreja anglicana e agora também botaram fogo na nossa igreja ", disse.
"Fiquei sabendo que colocaram fogo também na escola e na farmácia/ambulatório junto da igreja de Kibera, após roubarem tudo o que havia no ambulatório. Vândalos estão se aproveitando da situação e fazendo baderna."
Ele informou que começaram roubando o que havia no local e depois colocaram fogo, enquanto as pessoas ficaram olhando do lado de fora, sem poder fazer nada. Winterle lamenta o ocorrido, pois na igreja havia cerca de duas ou três equipes médicas que vinham todo ano dos Estados Unidos para atender à população gratuitamente.
Questão religiosa
Ontem, o secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU), Ban Ki-moon, se mostrou chocado com a violência desencadeada no Quênia, por meio de um comunicado divulgado por seu porta-voz.
Ele convocou as autoridades políticas e religiosas a se lembrarem de "sua responsabilidade legal e moral de proteger as vidas de pessoas inocentes, independentemente de sua origem racial, religiosa ou étnica".
De acordo com informações da ONU, um dos principais problemas é o acesso de ajuda humanitária, já que a estrada Nairóbi-Nakuru está bloqueada. Os corredores de transporte que saem do Porto de Mombasa também têm acesso restrito, o que dificulta o envio de suprimentos a operações de paz e humanitárias em outros países, como o Sudão, Uganda e Congo.
Protesto é adiado para terça-feira
A polícia queniana reprimiu ontem a manifestação convocada pelo candidato derrotado nas eleições presidenciais. Raila Odinga, havia convocado 1 milhão de partidários para se reunir na praça Uhuru, no centro da capital queniana, em protesto contra os resultados da eleição, que reelegeu o presidente Mwai Kibaki, em meio a acusações de fraude.
De acordo com números fornecidos pela polícia, cerca de duas mil pessoas marchavam de diversos pontos de Nairóbi para se reunir na praça. A polícia usou gás lacrimogênio e jatos de água para dispersar um grupo que levantava barricadas em uma das principais avenidas da cidade, enquanto iam para a Praça Uhuru – onde fica a igreja do pastor Winterle.
Na véspera, o governo queniano já tinha proibido a manifestação. A disputa política desencadeou violência em todo o país. Desde a semana passada, estima-se que mais de 300 pessoas morreram e 100 mil saíram de suas casas.
Veja aqui informações da Missão Para o Interior da África (MIAF) sobre a mobilização da Igreja no local
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