O acidente com o Airbus A-320 da TAM anteontem, em São Paulo, causou a morte de aproximadamente 200 pessoas e deixou familiares, amigos e o restante do País em luto. Em tragédias dessas proporções, é comum a busca por razões transcendentais para explicar não apenas as mortes, mas também os imprevistos que salvaram as vidas dos que deveriam estar no vôo e, por algum motivo, não embarcaram.
A reportagem do JC ouviu líderes evangélicos, espíritas e católicos em Bauru para captar a visão de diferentes religiões diante da catástrofe. Nenhum dos crentes atribuiu a desgraça a um castigo divino, no entanto, todos alertaram: momentos como esses exigem reflexão de como anda a vivência espiritual de cada um.
Sem entrar na questão dos culpados pelo acidente, o monsenhor Almir José Cogiola, da Paróquia Santa Rita de Cássia, disse que a Igreja Católica vê essas catástrofes como um alerta de Deus para a caminhada dos homens na Terra. “Quem sabe Deus não quer chamar nossa atenção? Porque tudo isso é passageiro e devemos pensar um pouco mais sobre a vida espiritual e eterna”, colocou o padre.
O presidente do Conselho de Pastores Evangélicos de Bauru, o pastor Edson Valentin, não acredita que o desastre tenha sido determinado por Deus, mas ressaltou que tudo tem um propósito. “Um acidente como esse nos faz parar e pensar em como estamos levando a vida hoje e como ela será na eternidade”, disse.
A doutrina espírita apresentou um outro olhar sobre o episódio. Para o presidente do Centro Espírita Amor e Caridade (Ceac), Richard Simonetti, o acidente foi resultado da imaturidade espiritual do homem. “Estamos sujeitos na Terra às contingências determinadas pela fragilidade humana, capaz de gerar eventos trágicos, como uma guerra, um acidente, uma carência de cuidados mínimos em favor da subsistência”, afirmou.
Sorte ou azar
O consultor Fabrício Costa foi a Porto Alegre (RS) na última segunda-feira para visitar uns clientes. Deveria voltar no vôo 3054 da TAM, mas – “graças a Deus”, como disse – acabou os compromissos mais cedo e voltou a São Paulo no vôo 3052 da empresa.
O deputado Júlio Redecker (PSDB-RS) não teve a mesma sorte. Ele até tentou trocar o vôo por outro da Gol, que seguiria direto para Guarulhos, conforme apurou a “Folha de São Paulo”. Mas, como não havia o lugar desejado, acabou embarcando no fatídico avião da TAM.
Ele deixou a esposa e três filhos. Uma outra mulher perdeu duas filhas e a mãe no acidente. E tantas outras pessoas tiveram parentes e amigos mortos na tragédia aérea desta terça-feira. O monsenhor Almir José Cogiola avalia os fatos acima como tristes – ou felizes, para quem escapou da morte – casualidades.
“Cada um tem a sua hora de partir. A morte chega quando menos se espera, por isso devemos estar preparados”, colocou.
Aos que ficaram, o pastor Edson Valentin aconselha uma reflexão. “Há uma oportunidade de se pensar sobre a eternidade agora, se nós queremos ter uma vida na eternidade com Deus, e isso tem que ser pensado agora”, enfatizou.
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