“Você tem que contar a mais pessoas essa história”, o pastor de Sajjida disse a ela. “Mais pessoas precisam saber que Jesus não está somente aparecendo aos muçulmanos para trazê-los até ele. Ele continua a ser aquele que cura, que nos visita e trabalha entre aqueles que já são parte do Corpo de Cristo. Você precisa testemunhar”, encoraja ele. No decorrer do ano, Sajjida disse para quase todo mundo que veio visitá-la desde os ataques terroristas na igreja de Peshawar, que as suas feridas foram tratadas por Jesus em duas ocasiões.
“Nós tentamos visitar todos aqueles que perderam um membro ou foram feridos nos ataques. Cada família tem suas carências particulares. Nossas equipes têm investido muito tempo, em função da natureza dos ataques, lidando com as necessidades decorrentes de estresse pós-traumático e fornecendo o apoio que as famílias necessitam. Temos trabalhado em parceria com a igreja local durante todo o ano, e no aniversário de um ano dos ataques, no dia 22 de setembro de 2014, renovamos nossa parceria com a Igreja de Peshawar e nos comprometemos a continuar trabalhando em conjunto com eles”, comenta o colaborador da Portas Abertas, cujo nome não pode ser mencionado por motivos de segurança.
O time de aconselhamento chamado Alive fala sobre Sajjida e sua família. Eles foram umas das primeiras famílias a chegar ao local. Não pediam por ajuda e, ao mesmo tempo, se escondiam. Eles estavam transbordando de tristeza. “Sim, houve dias em que Sajjida pediu que todos nós deixássemos seu quarto, mas na maior parte do tempo ela apreciava ter amigos do Alive visitando-a”.
Quando os membros da equipe de trauma foram vê-la, Sajiida conta que “eles não gastaram tempo sentindo pena de mim, nem ainda me deixaram alimentar o passado, mas sempre com sensibilidade e amor. Eles não ficaram dizendo para mim ‘você era tão bonita, olha só agora como você está’, como minha vizinha dizia toda vez que me via”.
Cada visita era diferente. Alguns dias eram mais cinzentos, outros mais claros. Na verdade, em alguns dias parecia evidente que Jesus esteve em seu quarto. Em outros dias, a equipe sentia uma guerra espiritual sobre a jornada de Sajjida e Jarrar. Alguns dias eles falariam sobre os homens-bomba e o motivo pelo qual eles sentiram necessidade de destruir a igreja. Outros dias eles falariam sobre a dor e se questionavam se algum dia essa dor sumiria.
A equipe olhava todos os relatórios médicos com ela, deixava ela falar sobre eles, olhava os raios-x, ouvia suas impressões e suas orações a cada imagem. A última visita antes do primeiro aniversário do ataque foi bastante significativa. Sajjida pediu a Jarrar para se desfazer da pasta com os exames de raio-x e os relatórios. Eram cerca de 200 folhas de papel ― sem contar as centenas de milhares de receitas do ano anterior que pareciam surgir de todos os bolsos das jaquetas e casacos.
“Nosso casamento está sendo testado em todos os sentidos. Perdemos nosso filho nos ataques e nossa filha não foi atingida por pouco. Perdemos membros de nossas famílias e Sajjida requer toda energia e atenção. Alguns dias nós não conseguíamos sequer como orar. Eu apenas olhava para o teto e acreditava que além daquele teto estava um Deus com um propósito poderoso. Os únicos que eu podia confiar eram os membros da equipe Alive. Ninguém mais tinha autorização para se aproximar das nossas lágrimas e dos nossos corações”, testemunha Jarrar com lágrimas nos olhos na medida em que abaixa a cabeça nos joelhos do pastor e chora.
Sajjida sentou-se para falar com uma amiga do Alive. Seu instinto maternal continua bem aguçado. Sua filha passa por ela e na medida em que seu corpo pode se mover, subitamente ela pega a criança. “Eu acabei de derrubar um copo de suco ali. Você está sem sapatos e no chão há cacos de vidro. Vá para lá, papai está trazendo uma vassoura para juntar os cacos”, explica ela para a criança que tenta se esquivar do colo da mãe.
A mesma mãe que quase não pode se mover já faz um ano. Sajiida beijou a criança, que saiu correndo. Ela olha para seus pés. “Eu me pergunto se vou poder algum dia voltar a calçar sapatos altos novamente. Jarrar sempre me disse que eu tinha pés bonitos. Aqui na fronteira, onde nós temos que vestir xales grandes e pesados para esconder o rosto e o corpo, os pés são tudo o que vemos. Você acha que eu algum dia vou poder usar salto alto novamente? Você acha que eu terei pés bonitos novamente? Eu pergunto sobre isso a Jesus nos dias que eu consigo orar. O que você acha?”
Os olhos da amiga se enchem de lágrimas e ela levanta os pés de Sajjida, começa a massageá-los e diz: “Eu acho, Sajiida, que você tem lindos pés. Você tem dito às pessoas todos os dias nos últimos sete meses que Jesus esteve em seu quarto, fez os curativos em suas feridas e está trazendo cura para você. Você anuncia as boas-novas. Seus pés são lindos”.
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