O ataque brutal à editora cristã na conservadora cidade turca de Malatya, onde três homens, entre eles um alemão, foram encontrados amarrados e com as gargantas cortadas, foi uma provocação, opina Mechthild Brockamp, redatora da Deutche Welle.
O ataque brutal à editora de bíblias Zirve foi uma provocação. Uma provocação que pode se repetir a qualquer momento e que prejudica a imagem da Turquia. Quem quer que seja que tenha praticado o terrível atentado sabe de suas conseqüências, principalmente no campo da política externa.
Até agora foram presos dez suspeitos, ultranacionalistas de Malatya. De acordo com suas próprias declarações, seu objetivo é proteger o Islã dos cristãos. Malatya é um bastião islâmico - como Trabzon, cidade onde, em fevereiro de 2006, um padre foi assassinado um por um jovem fanático, no auge das manifestações contra as caricaturas de Maomé. No começo deste ano, um outro ultranacionalista de Malatya assassinou o editor cristão Hrant Dink, também originário de Malatya.
Por este motivo, a tarefa mais urgente do governo do primeiro-ministro Recep Erdogan é esclarecer a liberdade religiosa. O princípio do laicismo na Constituição turca prevê a estrita separação entre religião e Estado, bem como a liberdade de culto e religião.
Mas, na realidade, ela é subordinada ao Estado. Por que então uma agência estatal de questões religiosas controlaria todas as atividades ligadas ao Islã? É uma triste verdade que o Estado laico, onde minorias cristãs e judaicas deveriam também se sentir em casa, só exista no papel.
Esclarecer a questão da liberdade religiosa implica esclarecer a estrutura da liberdade de religião, por exemplo, a formação de paróquias. Missionários não são permitidos na Turquia, o que é um estranho construto.
O governo turco e os líderes religiosos islâmicos devem, juntos, tornar claro que o direito de mudar de religião ou de fazer trabalho missionário é parte inalienável dos direitos humanos para todas as comunidades religiosas e que o direito à liberdade de religião não deve somente ser garantido constitucionalmente, mas também que os fiéis possam praticá-la sem temer por suas vidas.
A não garantia desta segurança é uma grande falha do governo turco. Isto significa que este governo também é responsável pelos ataques - ataques que não devem mais se repetir. Não é suficiente que o primeiro-ministro Erdogan defenda publicamente a secularidade.
Há muito que a Europa exige que a Turquia crie uma situação clara, ou seja, mais liberdade para as minorias cristãs. E está correto desta forma. Quem quer fazer parte da Europa, tem também que se abrir à identidade européia.
O ataque inumano à editora cristã poderia, agora, pôr mais lenha na fogueira daqueles conservadores europeus que não querem a Turquia na União Européia. Portanto um apelo a estas pessoas, para que não percam o senso crítico. O ataque à organização cristã não foi terrorismo de Estado. A Europa não deve fechar as portas para a Turquia após este atentado perturbador. Não se deve dar tal vitória aos agitadores do país.
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