O cristianismo no Iraque corre sérios riscos em função da proposta de Constituição que pode negar os direitos às minorias religiosas. No dia 23 de agosto último, o arcebispo de Kirkuk, no Norte do Iraque, disse que se a proposta de Constituição do país falhar na proteção da liberdade civil e dos direitos religiosos, poderá ocorrer um êxodo massivo dos cristãos.
Os alertas de D. Louis Sako surgem depois de um conturbado debate sobre se a Constituição deverá ou não ter a lei da "sharia" como única inspiração da lei iraquiana. O religioso expressou também a sua preocupação com os fiéis, que correm o risco de perder a sua liberdade. Estamos muito preocupados. Se nada assegura os direitos dos cristãos, eles partirão para outros países. Temos pedido às pessoas para ficarem no país, mas o problema é que não conseguimos apresentar-lhes uma visão do futuro. Ninguém consegue.
Essa observação veio quando os líderes iraquianos adiaram mais uma vez a votação da Constituição, passo-chave para que o documento seja submetido à aprovação do parlamento. As tensões e desacordos continuam a ameaçar a Constituição e os cristãos têm dificuldade em fazer ouvir as suas vozes. O problema é virtualmente irremediável, visto que os cristãos são menos de um milhão numa população de 24 milhões, dos quais 90% são muçulmanos.
Quais serão os nossos direitos? Pergunta o arcebispo. Os cristãos estão aqui muito antes do Islã e dos Árabes. Somos uma população indígena, não somos estrangeiros ou estranhos. Onde está a democracia que todos ansiamos? Uma Constituição que dê primazia à lei da "sharia" fará com que seja muito difícil ser cristão. As mulheres cristãs sofrerão pressões para usar o hijab (véu islâmico) e serão impostas restrições para construir e reparar igrejas.
Os cristãos terão pouca proteção perante a lei e serão discriminados em favor dos muçulmanos. O arcebispo, membro da comunidade cristã mais numerosa no Iraque, os caldeus, insistiu nas suas preocupações a respeito da federalização do Iraque, em especial acerca dos planos de controle xiita (denominação muçulmana) do Sul do país, incluindo a capital Bagdá, onde reside o maior número de cristãos iraquianos.
Ele sublinhou que os xiitas são fundamentalistas na relação com as minorias e acrescentou:
Muitos cristãos já estão migrando para o Norte e para outros países. Não sabemos como será o futuro dos cristãos iraquianos, só nos resta rezar e esperar que as coisas melhorem. O alerta do arcebispo Sako foi feito em uma carta, escrita em conjunto com outros dez líderes de outras tantas comunidades cristãs, que pedia que a Constituição reconhecesse os direitos das minorias religiosas.
Enquanto se espera pela conclusão deste processo, o arcebispo pede as orações do Ocidente pelo Iraque nesses tempos críticos que se aproximam. Uma vez conseguido o acordo entre os negociadores representantes dos maiores grupos religiosos do país, a proposta de Constituição seguirá para o parlamento, onde, os líderes iraquianos aprovarão para referendo ou farão a revisão de algumas partes do texto e marcarão uma nova data para a decisão final.
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