Extremistas hindus incendiaram uma igreja no sábado, 23 de dezembro, interromperam cantatas na véspera de Natal e atrapalharam cultos natalinos em vários Estados. Um cristão teve a mão fraturada e outro perdeu a audição.
Os extremistas queimaram uma igreja feita de palha em Boriguma, distrito de Koraput no Estado de Orissa, na noite de 23 de dezembro, evitando que os membros celebrassem lá o Natal. A congregação já estava decorada para as festividades natalinas, mas tudo foi destruído pelo fogo.
Asit Kumar Mohanty, representante estadual do Conselho Global dos Cristãos da Índia (GCIC), disse que a entidade estava investigando o incidente, a fim de identificar o responsável.
Na véspera de Natal, cerca de 45 jeeps transportando membros do Dharma Sena circularam pelas ruas de Raipur, capital de Chhattisgarh, anunciando que iriam impedir todos os cultos realizados no dia de Natal.
"O Dharma Sena é um grupo fundamentalista hindu apoiado pelo VHP e pelo partido que governa o Estado, o Bharatia Janata", disse ao Compass o secretário geral do Fórum Cristão de Chhattisgarh, Arun Pannalal.
"Eles já tinham promovido vários ataques na semana anterior ao Natal", acrescentou. "Essas ameaças públicas são apenas mais um passo em sua campanha de expulsar os cristãos do Estado."
Prisão de integrantes de coral
Mais tarde, ainda na véspera do Natal, o pastor James Ram e 10 outros missionários cristãos foram agredidos e presos depois de participarem de uma cantata em Jalampur, um vilarejo remoto em Dhamtari, a cerca de 80 quilômetros ao sul de Raipur, em Chhattisgarh.
Membros do grupo extremista hindu Bajrang Dal atacaram cerca de 20 cristãos que se reuniam em uma igreja em Jalampur. Os extremistas atiraram pedras contra a igreja, agrediram alguns cristãos e destruíram hinários e Bíblias.
Cinco cristãos ficaram feridos durante o ataque; um deles perdeu a audição devido a um golpe que sofreu na cabeça, enquanto um aluno da escola bíblica teve a mão fraturada, de acordo com um relatório do GCIC.
"Os missionários foram pegos subornando hindus pobres em uma favela, a fim de convertê-los ao cristianismo", noticiou o "Times of India", citando Bharat Singh, superintendente de polícia de Dhamtari. "Eles estavam prometendo ajuda econômica e empregos em troca de conversão".
Arun Pannalal disse ao Compass que as acusações de conversão forçada eram falsas: "Membros do Bajrang Dal simplesmente estavam irritados com a cantata de Natal".
O pastor James foi libertado por volta das 22h30, e os outros cristãos foram soltos no dia seguinte, por volta das 18h30.
As prisões elevaram a tensão na área de Dhamtari; nos últimos dias, membros do Dharma Sena e do Bajrang Dal estavam patrulhando as ruas, segundo Arun Pannalal.
Culto interrompido
Extremistas hindus também evitaram que cristãos tribais da vila de Tilonda, no distrito de Thane, Estado de Maharashtra, celebrassem um culto na véspera do Natal.
Mais de 400 cristãos tinham se reunido para o evento.
Antes do início do culto, entretanto, uma grande multidão do Vanvasi Kalyan Parishad invadiu o local, gritando palavras de ordem contra o cristianismo e expulsando os cristãos do salão de reunião.
Temendo mais violência, os oficiais da igreja cancelaram o evento.
De acordo com Abraham Mathai, vice-presidente da Comissão de Minorias de Maharashtra, aconteceram outros três incidentes de violência contra cristãos em Tane, na semana que antecedeu o Natal.
Abraham Mathai escreveu para a polícia local pedindo proteção para os cultos da véspera de Natal.
"A polícia estava presente, mas não fez nada quando os extremistas chegaram", disse Mathai.
"Reconversão" ao hinduísmo
O grupo extremista hindu Dharam Jagran Samiti (DJS ou Sociedade para o Reavivamene Religioso) informou, no dia 26 de dezembro, que tinha "reconvertido um grande número de cristãos" no distrito de Agra, Estado de Uttar Pradesh, segundo relato da Asian News International.
"Os hindus que se converteram ao cristianismo, ou aqueles que foram atraídos para essa religião pelos missionários cristãos, foram chamados aqui para voltar ao rebanho hindu com respeito e em igualdade de condições", disse Gajeshwar Singh, líder regional do DJS.
No dia 23 de dezembro, a polícia exigiu que a Comunidade Bom Pastor (GSCC, sigla em inglês), em Agroha, distrito de Hisar, Estado de Haryana, não celebrasse o Natal.
"Algumas pessoas, aparentemente pertencentes ao Bajrang Dal e ao VHP, registraram uma queixa na delegacia de Agroha, alegando que a igreja estava convertendo os hindus", disse o reverendo Reginald Howell, da GSCC.
Ele disse que a queixa foi feita quando membros da igreja entoavam canções natalinas na igreja.
Atendendo à reclamação, a polícia intimou sete cristãos, incluindo o pastor da igreja, identificado apenas como Romi, e os interrogou. Eles foram libertados depois que o chefe da vila pediu à polícia.
"Os cristãos foram chamados à delegacia em 24 de dezembro e receberam ordens de não realizar qualquer culto no Natal", disse Howell. "Entretanto, depois que representantes da Associação Legal Cristã da Índia intervieram, a polícia permitiu que a igreja celebrasse o Natal", acrescentou.
Relato positivo
No único relato positivo, oficiais evitaram uma manifestação anticristã em Dangs, Gujarat, no dia do Natal, impedindo mais violência.
O Conselho Cristão Geral da Índia (AICC, sigla em inglês) agradeceu ao ministro-chefe do Estado de Gujarat, Narendra Modi, por evitar a violência anticristã no distrito de Dangs durante o Natal.
Samsom Christian, secretário da AICC, disse que líderes de Dangs e de Bhavnagar negaram permissão ao Vishwa Hindu Parishad (VHP ou Conselho Mundial Hindu) e ao Rashtriya Swayamsevak Sangh (RSS) para que realizassem manifestações em massa na região por ocasião do Natal.
Os cristãos pediram às autoridades que proibissem o evento, já que manifestações anteriores na região na época do Natal tinham resultado em ataques violentos. Em uma manifestação realizada na semana do Natal de 1998, extremistas hindus destruíram várias igrejas e instituições cristãs e atacaram muitas pessoas.
"Um forte esquema de segurança foi mantido nas áreas dominadas por cristãos, particularmente o distrito de Dangs, que tem um histórico de conflitos entre cristãos e hindus durante a celebração do Natal", informou o diário "The Hindu".
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