O segundo livro da trilogia Nada a Perder, que conta a história de vida de Edir Macedo, líder da Igreja Universal do Reino de Deus (IURD), trará detalhes das crises enfrentadas pelo bispo durante a década de 1990, quando chegou a ser preso sob acusação de charlatanismo e negociou a compra da TV Record.
No livro, escrito a quatro mãos com Douglas Tavolaro, vice-presidente de jornalismo da Record, Macedo revela que pensamentos de suicídio “foram soprados” em sua mente.
Na época, a esposa de Macedo, Ester, foi sequestrada durante um assalto, e isso levou o bispo a decidir que andaria armado como forma de se prevenir. Ele escondia o revólver calibre 38 no púlpito enquanto pregava, e não abria mão da arma em seus deslocamentos. “Mais tarde fui tocado pelo Espírito Santo, que me convenceu que andar armado era falta de confiança em Deus”, diz o bispo em trecho do livro.
O jornal Folha de São Paulo teve acesso ao livro e publicou uma matéria contando os pontos altos da narrativa biográfica, que deve ser lançada no final deste mês.
Negociação da TV Record
A compra da TV Record, que à época pertencia aos empresários Paulo Machado de Carvalho (proprietário da rádio Jovem Pan) e Silvio Santos (apresentador e dono do SBT), é descrita pelo bispo como sendo um dos capítulos mais conturbados de sua vida. “Não imaginava que viveria o inferno a partir do dia em que decidi comprar a Record”, diz Macedo em trecho do livro.
A negociação foi realizada pelo então deputado federal Laprovita Vieira, que assumiu a frente no lugar de Macedo e fazia os contatos com os sócios da emissora. Quando Machado e Silvio Santos descobriram que a venda seria feita na verdade para Edir Macedo, o negócio quase foi cancelado, revela o livro.
Nessa fase da negociação, Macedo já havia dado uma entrada de US$ 6 milhões através de seu representante, o deputado Laprovita. Caso os sócios da emissora decidissem encerrar as negociações, esse valor seria perdido.
Entretanto, o Brasil atravessava séria crise econômica, com altos índices de inflação e baixo crescimento. O presidente Fernando Collor implantou o Plano Collor, que pretendia recuperar a economia, através do sequestro de aplicações e poupanças, além de apertar o cerco a empresas endividadas, que era o caso da TV Record.
Diante da iminente falência, Machado e Silvio Santos decidiram aceitar negociar com Edir Macedo, e fecharam o negócio com o bispo. Como as igrejas não sofrem taxação de impostos dos dízimos e ofertas arrecadados, Macedo se tornava a única pessoa com capacidade de compra e recuperação financeira da Record.
Logo após assumir a emissora, Macedo recebeu outra boa notícia: a entrada em vigor do Plano Real, que iniciou uma recuperação econômica do país, derrubou a inflação e também a cotação do dólar, o que fez o custo da compra da Record ser reduzido. “A gente chegava a pagar três parcelas em um só mês”, revela Macedo em seu livro.
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