Se há culto na Penitenciária Talavera Bruce, no Complexo de Gericinó, é dia de “Terremoto”. E, para provocar abalos na cadeia, 320 presas que cumprem pena na unidade cantam juntas e choram a saudade de casa. Entoada pelo Coral Leão da Tribo de Judá, formado por detentas, a música que leva esse título virou hino para as condenadas que aguardam a liberdade. A renovação pela fé – seguida pelo trabalho e pela educação – é o caminho preferido por quem está atrás das grades e busca, na ressocialização, o direito de voltar a viver em sociedade.
“As presas que fazem parte do coral eram as mais violentas e consideradas irrecuperáveis. Mas, quando elas encontram a palavra de Deus, mudam por dentro” explica a missionária Cátia Regina de Brito, de 42 anos.
Retorno como exemplo
Ao todo, 700 agentes religiosas, de 50 instituições, freqüentam as unidades prisionais do estado, com trabalhos voltados para a recuperação de presos. Muitos detentos, depois de ganharem a liberdade, acabam voltando ao presídio onde cumpriram a pena, para rever amigos e renovar a esperança de quem ainda está lá dentro.
“É importante que elas voltem, para mostrar às presas que o que se inicia aqui pode ser continuado fora dos muros” ensina Cátia, acrescentando:
“Outro dia, na minha igreja, uma ex-detenta participou do culto. E foi acolhida sem qualquer preconceito. Sei que ajudamos aquela pessoa a mudar, e não há dinheiro que pague por isso”.
A detenta Jaqueline Mynssemn, de 30 anos, é um exemplo para as colegas de cela. Condenada a 25 anos por latrocínio (roubo seguido de morte), ela procurou a ajuda divina para superar os obstáculos, além de coordenar um grupo de 25 detentas no projeto Mãos à Arte, no qual as presas fazem artesanato, vendido em lojas especializadas do Rio.
Jaqueline era estudante do 6 período de enfermagem, quando, sem dinheiro, virou garota de programa.
“Precisava pagar a faculdade e me indicaram o apartamento de um delegado, que guardava muito dinheiro. Planejei e outras pessoas fizeram o assalto. Ele reagiu e foi morto” lembra.
Há seis anos cumprindo pena, ela acredita que é possível se recuperar no sistema, mas é preciso que o interno busque a ressocialização:
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