O escritor e educador Rubem Alves, ex-pastor presbiteriano, faleceu no último sábado, 19 de julho de 2014, vítima do agravamento de uma pneumonia que terminou em falência múltipla dos órgãos. A vida de Alves chegou ao fim depois de 80 anos, em Campinas, interior de São Paulo.
Rubem Alves foi bacharel em teologia pelo Seminário Presbiteriano do Sul, em Campinas, mestre em Teologia e doutor em Filosofia (Ph.D.) pelo Seminário Teológico de Princeton (EUA), além de psicanalista e professor no Instituto Presbiteriano Gammon, em Lavras (MG), no Seminário Presbiteriano de Campinas, na Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Rio Claro (SP) e na UNICAMP, onde tornou-se Professor Emérito.
Durante muitos anos foi pastor presbiteriano, mas sua postura liberal e seu envolvimento com movimentos de renovação da teologia o fizeram sofrer críticas e questionamentos desde muito cedo. Como consequência desses atritos, foi listado pelo Regime Militar nos anos 1960 como um dos pastores procurados pela repressão, e foi para os Estados Unidos estudar e desenvolver sua tese de doutorado.
Em 1968, precisou deixar o ministério pastoral pois os conflitos no âmbito teológico haviam se tornado insustentáveis, e foi proibido de subir aos púlpitos das Igrejas Presbiterianas.
Desse embate na área da religião, Rubem escreveu o livro “Protestantismo e Repressão”, com a intenção de analisar as origens, práticas e cotidiano do movimento. Mesmo antes de sua morte, o ex-pastor foi tido como dos mais relevantes pensadores no cenário teológico do Brasil.
No âmbito secular, Rubem Alves dedicava-se a ensinar, que para ele, era “um ofício que deve ser exercido com paixão e arte”, num gesto de alegria. Suas reflexões sobre o assunto são vistas como amplas e inspiradoras pelos especialistas. “Educar não é ensinar matemática, física, química, geografia, português. Essas coisas podem ser aprendidas nos livros e nos computadores. Dispensam a presença do educador. Educar é outra coisa. […] A primeira tarefa da educação é ensinar a ver. […] Quem vê bem nunca fica entediado com a vida. O educador aponta e sorri – e contempla os olhos do discípulo. Quando seus olhos sorriem, ele se sente feliz. Estão vendo a mesma coisa. Quando digo que minha paixão é a educação estou dizendo que desejo ter a alegria de ver os olhos dos meus discípulos, especialmente os olhos das crianças”, dizia o escritor.
O corpo de Rubem Alves foi velado na Câmara Municipal de Campinas, e cremado em Guarulhos. As cinzas serão jogadas aos pés de um Ipê amarelo, como ele havia pedido em vida. “Sempre foi um pai maravilhoso, sempre esteve ao lado da família, foi preocupado com os filhos, com os netos. O legado que ele deixa é o legado da simplicidade. Ter mostrado que com as coisas simples, com o vento, as árvores, a gente pode ser muito feliz”, disse o filho Marcos Nooper Alves, de 52 anos.
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