Dave Eubank é um homem acostumado a desafios. Ex-soldado das Forças Especiais do Exército americano, hoje ele dirige uma ONG humanitária e missionária chamada Free Burma Rangers, que nos últimos anos tem se dedicado a atuar no Iraque e na Síria.
Ele conta que tem prestado apoio a uma unidade iraquiana que estava lutando contra os jihadistas do Estado Islâmico na linha de frente em Mosul. “Nos últimos dois dias, o EI tem atacado pessoas que escapam desta área”, contou Eubank em entrevista à agência Reuters semana passada. “Eu vi mais de 50 cadáveres ontem, e ainda há mais”.
Conta também que centenas conseguiram chegar às áreas comandadas pelo governo, alguns muito feridos e outros que carregavam aparentemente cadáveres em cobertores, chorando e gritando. Um homem carregava uma criança inconsciente.
“Eles disseram que os civis chegaram, muito (deles) dispararam”, reforça o missionário, cujo trabalho principal tem sido ajudar civis a fugir das áreas controladas pelos jihadistas.
Sua equipe entrou em ação logo após que eles receberam uma ligação sobre um novo ataque. “Nós chegamos lá e um cara veio chorando muito. Ele dizia:” Minha filha foi baleada na cabeça, diante dos meus olhos”, lembrou Eubank.
Mesmo acostumado com cenas de guerra, o missionário conta que a cena era horrível. Pelo menos 50 corpos estavam no chão, atingidos pelas costas quando tentavam fugir. Logo após tirar uma foto daquela triste cena, ele disse que viu um movimento entre os mortos. Ele e sua equipe estavam próximos, mas acabaram presos no meio do fogo cruzado do exército iraquiano e o EI.
Ele sabia que tinha que fazer algo, mas conhecia bem o risco que corria. “Não havia como ajudá-los, mesmo estando a apenas uns 150 metros de distância”, relata. Eubank reforça então que ele e sua equipe oraram e “Deus abriu um caminho”.
Após os momentos de oração, decidiu que tentariam um resgate. Chamaram um dos comandantes das forças iraquianas, que contatou os militares americanos na área. Um ataque aéreo deixou cair uma espécie de “cortina de fumaça” que lhes deu tempo suficiente para avançar por mais de uma centena de metros.
Havia três sobreviventes entre os mais de 50 cadáveres espalhados pela rua. O ex-soldado usou seu treinamento militar para conseguir atravessar aquele terreno, enquanto ouvia tiros sendo disparados. De repente, viu uma menina se mexendo embaixo do cadáver de uma mulher.
Nós a chamados, mas ela e os dois homens feridos estavam vivos, embora incapazes de andar sozinhos. Ele pegou a menina, que gritava chamando pela mãe. Eubank sabia que tinha pouco tempo. “Eu orei e disse para mim mesmo: é agora ou nunca. Se eu morresse, minha família entenderia que era para salvar uma menininha”.
Lembrando do episódio, descreve: “Corri o mais rápido que pude, tirei a menina de baixo do corpo da mãe e voltei correndo. Os soldados do Estado Islâmico estavam atirando o tempo todo, e os iraquianos respondiam”.
Um outro membro do Free Burma Rangers conseguiu tirar um homem do meio do fogo-cruzado naqueles momentos. A ONG encaminhou tanto a menina quanto os outros dois feridos ​​para um hospital iraquiano, onde estão se recuperando.
No dia seguinte, Eubank arriscou-se e voltou para o local, onde coordenou os salvamentos de outras sete pessoas que saíam da cidade. Apesar dos grandes riscos, o missionário diz que sua esposa Karen e seus filhos também estão no Iraque ajudando quem foge do EI.
Em uma foto divulgada por ele, a garotinha que eles resgataram pode ser vista sentada em uma cama assistindo um desenho animado cristão em um laptop. “Ela passou a primeira noite e no dia seguinte conosco”, disse Karen.
Menina vendo desenho
Ela conta que os que mantém vivos em meio a tanta destruição é a oração dos apoiadores.
Nas redes sociais, Dave Eubank fez um relato sobre o resgate dramático daquele dia: “Agradecemos a Deus e às forças iraquianas e americanas. Foi um milagre, Obrigado Jesus. E obrigado a todos vocês que estão orando por nós”.
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