A missionária Kelem Gaspar dirige o Projeto Campos Brancos, a Escola de Missões Pakau Oro Mon, a Creche Escola Missionária Peniel, além de trabalhar com evangelização nas Ilhas do município de Maracanã, no Pará, onde mora. Além disso, ela está envolvida em uma frente missionária no Peru.
Se o nome dela não é muito conhecido no “circuito” missionário é justamente por que a maior parte do tempo ela se desdobra em múltiplas atividades, que incluem cuidar de dezenas de crianças, onde além de ouvirem a Palavra, recebem reforço escolar e um lanche.
Kelem fez nesta sexta-feira (19) um desabafo sobre o que ela considera “falsos congressos de missões”. Em um longo texto, ela relata que muitos desses eventos que mesmo tendo o título de missionários, “em nada contribuem para o despertamento da igreja, orientação do ministério, aperfeiçoamento da obra ou melhoramento no campo”.
Ela afirma que é comum os preletores oficiais de tais congressos serem “grandes conferencistas internacionais que dificilmente já estiveram em um campo missionário e em nada podem acrescentar aos ouvintes nesse aspecto”.
O desabafo da missionária é baseado em sua própria experiência. Pois ela já esteve em congressos de missões, onde via os pregadores famosos ficarem “hospedados em hotéis cinco estrelas e receberem de cachê uma quantia considerável”. Por outro lado, os missionários da própria igreja acabam hospedados em lugares bem mais humildes e receberam como pagamento apenas “uma saca de roupa usada”.
Indignada com esse tipo de prática bastante comum, ela afirma que por causa dessa “incoerência”, os congressos deveriam mudar de nome. Afinal, geralmente “depois do evento, o nível de conhecimento, compromisso e consciência continua o mesmo”.
Com sua larga experiência nesse campo, ela diz esperar que Deus “abra os olhos da liderança da igreja” e que possam ser convidados apenas missionários “comprometidos com Deus e com sua obra para que preguem e instruam a igreja competentemente acerca dos desafios da obra missionária e da participação de cada um na conquista do mundo”.
Em sua reflexão ela lembra que alguns eventos missionários são realizados em igrejas que não possuem, de fato, “nenhum missionário no campo, nenhum projeto de missões e nem investem em missões”. Para Kelem, trata-se de “uma verdadeira fraude” quando o dinheiro é arrecadado em nome de missões “para ir direto para o caixa da própria igreja” e, assim, os pastores enganam a igreja de Deus “para se beneficiar”.
Ela relata que não deseja mais pregar em eventos que usam o nome “missionário”, mas não o são. Contou também que recentemente participou de um onde o “único missionário” daquela igreja, que fora trazido do campo para participar da festa, visivelmente passava por dificuldades e estava “hospedado em um quartinho atrás da igreja, sem nenhuma estrutura e fazendo suas refeições nas casas dos irmãos durante o evento”.
Ao ver isso, a missionária paraense decidiu entregar todo o valor da oferta que recebeu por ter ministrado nos três dias do congresso ao missionário. Sugeriu que ele investisse em uma prótese dentária, pois lhe faltavam os quatro dentes da frente, e o restante pudesse oferecer mais dignidade à sua família.
A conclusão da missionária Kelem Gaspar é que “nós, brasileiros, gostamos do prestígio da missão, mas não estamos comprometidos com o custo da missão. Amamos a glória, mas fechamos os olhos para o preço”.
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