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Minorias encontram dificuldades para construir templos na Malásia

A enorme e rosa mesquita Putra com seu altivo minarete é o cartão postal e um dos principais pontos turísticos na cidade de Putrajaya.

Ela abriga o culto de centenas de muçulmanos nessa capital administrativa da Malásia, que tem oito anos de existência, e é um exemplo da religião dominante do país - o islamismo.

Mas, a mesquita também indica a falta de uma única igreja ou templo em Putrajaya - onde as minorias budista, hindu e cristã ilustram o tratamento que cidadãos de segunda classe recebem nesse país de maioria islâmica.

As minorias religiosas se queixam há muito tempo dos obstáculos para conseguirem a permissão do governo para construírem seus templos na Malásia. Mas, suas frustrações cresceram em meio às recentes acusações feitas por ativistas, de que as autoridades estão destruindo santuários não-muçulmanos, acirrando a disputa racial que está latente há décadas sob uma máscara de harmonia multicultural.

Há muita enganação" entre os não-muçulmanos, disse P. Uthayakumar, um advogado hindu que abriu um processo legal visando impedir a demolição de templos. Cada vez que um templo é demolido, a segurança das pessoas é mais abalada.

A questão das igrejas e templos é parte de um debate mais amplo sobre os direitos racial e religioso. O grupo étnico malaio (o maior grupo), exclusivamente muçulmano, desfruta de privilégios, enquanto os grupos menores lutam contra assuntos como a notável falta de recursos quando eles têm disputas legais com muçulmanos em assuntos religiosos.

O debate e o conflito sobre templos para não-muçulmanos resulta das políticas comunitárias radicalizadas, disse Farish Noor, um analista político muçulmano malaio. Até aqui o governo malaio fala sobre ser um governo para todo o povo, mas infelizmente vemos que o compromisso dos muçulmanos-malaios é com a política em altas esferas.

Alguns estudiosos dizem que a destruição dos templos reflete falhas do governo do primeiro ministro Abdullah Ahmad Badawi, que assumiu o poder em 2003, em podar tentativas do grupo malaio de declarar sua influência e privilégios.

Abdullah, que adota uma filosofia de islamismo moderado progressivo, alertou em novembro que não permitiria que ninguém raptasse o islamismo na Malásia a fim de propagar intolerância e ódio.

Equilíbrio delicado

Entretanto, tem sido vista uma crescente percepção entre os não-muçulmanos durante o último ano de que alguns políticos e autoridades religiosas se tornaram super-zelosos na tentativa de assegurar que o status e a religião dos malaios não sejam ameaçados.

O maior conflito racial visto pela Malásia aconteceu em 1969, quando centenas de pessoas morreram nos conflitos entre muçulmanos - dois terços da população de 26 milhões - e pessoas de origem chinesa, que representam 25% da população.

A maioria dos chineses é budista ou cristã. Os de origem indiana, a menor minoria, são hindus.

A harmonia racial entre os três grupos é um equilíbrio delicado, mantido principalmente pelo fato de as minorias não fazerem escândalos sobre a primazia islâmica, e aceitarem e receberem a relativa liberdade que têm para praticar sua fé.

Mas, os críticos dizem que embora a liberdade religiosa seja um direito constitucional, as minorias estão sendo atingidas indiretamente pelas leis e regras herméticas.

Uma delas é que a conversão de malaios é ilegal. Regras estritas também limitam o número de templos, parcialmente baseadas no fato de haver a quantidade suficiente de não-muçulmanos em uma área, para justificar a existência de um templo ou de uma igreja.

Segundo as regras do Departamento Urbano de Planejamento para os não-muçulmanos, só se pode construir templos depois de levar em conta a harmonia racial... e não ferir a sensibilidade de outras religiões.

As leis também permitem que se destruam templos e igrejas construídos em terrenos que as autoridades considerem inadequados.

Mais demolições

No ano passado, ativistas alegaram ter aumentado a quantia de demolições, em especial a de templos hindu. O grupo Ação pelos Direitos Hindus afirma que mais de 70 templos foram demolidos ou ameaçados desde que essa ação entrou em vigor em 2006.

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Muitos templos hindus foram construídos por agricultores sem aprovação oficial, antes da independência do país da Grã-bretanha em 1957.

A coalizão hindu pressionou o governo a considerar o local dos templos como terrenos religiosos para protegê-los. Em dezembro, ela buscou um mandado judicial para evitar mais demolições.

A Malásia é um dos países mais calmos do Sudeste Asiático, e poucos temem que essa questão gere uma revolta perigosa. No entanto, algumas demolições causaram confrontos violentos, o que pode ser um sinal de uma tensão latente.

Em novembro, a polícia deu tiros de alerta para reprimir uma briga violenta entre manifestantes e operários de demolição que derrubavam parte de um templo chinês, no Estado de Penang. Foi dito que aquela era uma construção ilegal.

Enquanto isso, o principal problema para os cristãos é conseguir aprovação para construir suas igrejas. Uma igreja católica, por exemplo, espera há 18 anos pela permissão. Muitas congregações protestantes se reúnem em lugares comerciais já que não conseguem a aprovação do governo.

As autoridades, por sua vez, negam qualquer discriminação, apontando que os templos demolidos foram construídos ilegalmente, e que sua política leva em conta a existência do número suficiente de santuários não-muçulmanos.

Segundo as regras de planejamento, todo novo empreendimento deve fornecer templos não-muçulmanos", disse o ministro da Habitação e Governo Local Ong Ka Ting, de origem chinesa, à agência de notícias The Associated Press.

Tais promessas, entretanto, não substituem a ação. Malaios católicos trabalham desde 2005 para estabelecer uma igreja em Putrajaya, mas a liderança diz que ainda aguarda que o governo aprove o projeto da igreja.

O reverendo Julian Leow, um bispo envolvido no projeto, estima que centenas de católicos de Putrajaya, uma cidade de 50 mil, atualmente têm de viajar para os distritos vizinhos para a missa.

Seria significativo ter uma igreja na capital administrativa", disse Julian. Seria um exemplo (de diversidade religiosa) que a Malásia poderia apresentar não só aos católicos, mas ao mundo todo.

Fonte: https://www.portasabertas.org.br/noticias/2007/04/noticia3450/


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