O artigo a seguir foi escrito por um obreiro da Portas Abertas* que, pela primeira vez, passa o período do Ramadã em um país do Mundo Muçulmano:
Nos últimos cinco anos parece que palavras muçulmanas são mais freqüentes em jornais e noticiários: jihad, islã, hijab, Ramadã... Alguns associam esse vocabulário à imagem de um homem mascarado com o corpo cheio de explosivos, gritandoAllahu akbar! ("Deus é grande!" em árabe) e se explodindo em algum lugar do Oriente Médio. Para os crentes, tudo isso é "coisa do diabo". Mas, testemunhando pela primeira vez o Ramadã em um país islâmico, minha perspectiva é um pouco diferente.
Apesar do verão já ter passado, ao meio-dia sinto como se o Sol estivesse me derretendo enquanto caminho pelas ruas de onde moro. Tudo o que consigo pensar é chegar em casa e tomar um gole de água. Ao meu redor as pessoas sabem que em suas bocas só entrará líquido depois que escurecer, mas elas parecem não se importar.
Sinto-me envergonhado, lembrando que a minha Bíblia também enfatiza o valor do jejum, prática tão esporádica na minha vida e ausente na vida de muitos irmãos meus. Lembro de chiliques que presenciei em acampamentos evangélicos porque o sujeito passou uma tarde sem comer direito e estava "morrendo de fome". Penso: "Talvez, a grande "coisa do diabo" é ter feito com que os crentes esqueçam o valor do jejum".
Muitos Pedros para muitos Cornélios
Além do jejum, o sentimento religioso parece aflorar durante esse mês. Há mais pessoas pedindo esmolas porque sabem que nessa época as pessoas ficam mais generosas. As orações nos minaretes são mais longas e as mesquitas estão mais cheias. Na televisão, mostram a oração da tarde nas grandes mesquitas. É bonito de ver. Todos os homens ajoelhados em fileira, se prostrando em sincronia perfeita ao único Deus.
Alguns cristãos sentem ódio, outros pena. Eu lembro de um anjo falando a um comandante pagão, pouco antes de ele se converter ao cristianismo: "Deus aceitou suas orações e a ajuda que você tem dado aos pobres e ele não esqueceu de você" (Atos 10.4).
Ao cair da tarde, vejo as pessoas se aglomerando para a quebra do jejum. A comida tem um cheiro delicioso e todos parecem ansiosos para partirem o pão. Eu sou uma espécie de fura-greve, não estou com fome porque comi durante o dia e não posso compartilhar desse momento especial.
De longe, observo pais alimentarem filhos e trabalhadores saboreando sua sopa de lentilhas esperando por uma costela de cordeiro ou um pedaço de frango que está sendo assado. Fico me perguntando: "Quantos Cornélios há entre eles?" E oro para que sejam muitos e para que muitos também sejam os Pedros que levem as boas notícias de Cristo para tantos muçulmanos que buscam a Deus de todo coração.
* Por questão de segurança, o nome do autor não é mencionado.
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