Marcha para Jesus assume tom politico em meio a onda de protestos
Milhares de evangélicos saíram às ruas para falar de Jesus e de política.
Pela 21ª vez os evangélicos foram às ruas participar da Marcha para Jesus em São Paulo. Considerada a maior do mundo, a caminhada anual realizada neste sábado trouxe um elemento novo. Embora não seja a primeira vez que questões politicas andem de mãos dadas com assuntos religiosos, a onda de protestos que tomou o Brasil nas últimas semanas ecoou entre os fiéis de várias igrejas evangélicas participantes.
Promovido pela igreja Renascer, a marcha teve inicio no Brasil em 1993 e até hoje é comandada em São Paulo pelo apóstolo Hernandes e a bispo Sônia. Ela conta que acompanhou as recentes manifestações só pela internet. “No meu Instagram, vi um monte de evangélicos postando [fotos]. Tinha a plaquinha: ‘Ore pelo Brasil’.”
Ela explica que a motivação da Marcha é “ver o Brasil melhor, mais cheio de Deus” e que se apresentarão ao longo do dia vários artistas gospel (de axé a sertanejo) em dez trios elétricos e à noite no palco montado no Campo de Marte.
O que chama atenção, porém, é que em meio aos louvores, muitos evangélicos carregavam faixas e cartazes que refletiam os temas presentes nos protestos que acontecem em várias cidades brasileiras. Além das camisetas oficiais da marcha, este ano muitos vestiam camisetas do Brasil e empunhavam bandeiras do País além daqueles que pintaram os rostos de verde e amarelo
Ao invés da frase “vem pra rua”, que se tornou uma espécie de slogan do movimento que começou protestando contra o reajuste nas tarifas de transporte, muitos cartazes traziam hoje a frase: “vem pra rua marchar com Cristo”.
O professor Daniel Azevedo, 38, que marchava com uma faixa dizendo: “Jesus é 10, educação e saúde é zero”, explica: “Os evangélicos representam uma fatia considerável da população brasileira. Já estamos cansados de ver tanta coisa errada e precisamos também nos posicionar”. Patrícia Neves, 31, que ajudava a carregava a faixa, complementa “Tem que ir para as ruas mesmo, desde que seja pacífico a gente apoia”.
Alguns fiéis optaram por mostrar cartazes contra a corrupção e o “ativismo gay”. Fiéis da Assembleia de Deus do Rio de Janeiro estenderam diversas faixas contra os grupos GLBT e cobrando mais ações do governo.
“Estamos aqui para ajudar a acabar com a corrupção. Nós evangélicos precisamos fazer política também, senão os outros fazem pela gente. Acho que religião e política se misturam sim. Mas o ativismo é complemento ao louvor “, esclareceu Johnson Werneck, que liderava o grupo de cariocas que vieram pela segunda vez participar da marcha em São Paulo.
Estavam presentes políticos como o deputado Marco Feliciano (PSC-SP) e o senador Magno Malta (PR-ES). Ele cantou com sua banda de samba, a Tempero do Mundo, e aproveitou para criticar a ausência de colegas políticos em anos não eleitorais. “Qualquer outro tipo de marcha, eles vão. É como o cara que tem vergonha de andar no shopping de mãos dadas com você.”
Embora não estivesse presente pessoalmente, Marina Silva, que é missionária da Assembleia de Deus, mandou um grupo de apoiadores evangélicos coletarem assinaturas para possibilitar a fundação de seu novo partido: Rede Sustentabilidade
Os cerca de 200 mobilizadores da Rede abordaram os fiéis apresentando o partido como “representante dos evangélicos”. Um deles, Marcos Ferreira, que estava colhendo assinaturas desde o inicio da Marcha justifica: “Sou evangélico e acredito no partido. Mas, sinceramente, não acho que política e religião devem se misturar”.
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