O caso do afegão condenado à morte por se converter ao cristianismo recebeu uma grande cobertura da mídia. Isso, aparentemente, fez com que outros cristãos do país fossem detidos e oprimidos.
Abdul Rahman, 41, foi preso mês passado por apostasia, uma ofensa capital de acordo com as leis islâmicas em vigor no Afeganistão. Há quatro anos o país foi arrancado das mãos do regime Taleban, uma corrente extremista islâmica.
Durante os últimos dias, a agência de notícias Compass confirmou a prisão de mais dois cristãos afegãos em outros lugares do país. Por causa da situação delicada, as fontes pediram que as cidades dos convertidos presos não fossem informadas.
Na semana passada, um jovem afegão convertido ao cristianismo foi agredido em frente de sua casa por um grupo de seis homens. Ele desmaiou depois de receber um soco em sua têmpora. Ele acordou no hospital duas horas depois e recebeu alta antes de amanhecer.
Um de seus amigos disse: "Nosso irmão permanece firme, mesmo sendo rejeitado e agredido".
No mês passado, outros afegãos convertidos foram submetidos a invasões policiais em suas casas e locais de trabalho, além de receberem ameaças pelo telefones.
"Eu amo Jesus Cristo"
Abdul foi processado em Cabul pelo "crime" de se converter do islamismo ao cristianismo. Ele foi condenado à morte por não querer voltar à fé muçulmana.
Entretanto, seu caso só se tornou conhecido no dia 16 de março, com a divulgação da TV Ariana. De acordo com a emissora, perguntaram a Abdul no tribunal: "Você confessa ter apostatado do islamismo?" O réu respondeu: "Não, não sou um apóstata. Eu creio em Deus".
Ao perguntarem: "Você crê no Alcorão?" Abdul respondeu: "Eu creio no Novo Testamento e eu amo Jesus Cristo".
O caso de Abdul é o primeiro processo de apostasia do qual se tem notícia nas últimas décadas, apesar dos militantes islâmicos terem capturado e assassinado pelo menos cinco cristãos afegãos nos dois últimos anos.
Em sua primeira audiência perante o juiz principal de Cabul, Abdul afirmou que se tornou cristão há 16 anos, enquanto trabalhava com uma organização cristã de ajuda humanitária na cidade paquistanesa de Peshawar, próxima da fronteira afegã.
Depois de sua conversão, a mulher de Abdul se divorciou dele. Assim, suas duas filhas pequenas foram levadas de volta ao Afeganistão. Lá elas foras criadas por seus avós paternos.
Mais tarde Abdul deixou o Paquistão e tentou entrar, por vários anos, em vários países europeus. Mesmo tentando obter asilo, ele nunca conseguiu o status legal de imigrante. Após nove anos - a maioria deles passados em centros de detenção europeus por não possuir documentos válidos - Abdul foi deportado para o Afeganistão em 2002.
De volta a Cabul, Abdul conseguiu entrar em contato com sua família. Ele tentou diversas vezes ganhar de novo a tutela de suas filhas, agora com 13 e 14 anos.
Uma pessoa em Cabul contou: "O pai dele foi à delegacia, para impedir Abdul de procurá-lo. Ele disse que Abdul havia se convertido ao cristianismo". Abdul foi detido de imediato, interrogado e preso até o julgamento.
Abdul teve permissão para contratar um advogado de defesa, mas ele recusou, dizendo que pode se defender. Mas, segundo cristãos de Cabul, o convertido sofre de uma recorrente instabilidade mental, o que pode alterar a forma da corte islâmica lidar com o caso.
Abdul está preso com mais 50 pessoas em uma cela com capacidade para 15, na Prisão Central de Cabul. A imprensa não teve acesso a ele. Uma vez que Abdul foi abandonado pela família, e os prisioneiros dependem do alimento extra que seus parentes levam, não se sabe se ele está sendo alimentado regularmente.
Chamado de "câncer"
Se Abdul for condenado por apostasia e receber a pena de morte, como exige o promotor Abdul Wasi, a lei afegã lhe dá direito a dois apelos finais: primeiro ao tribunal da província e depois à Suprema Corte.
Chamando Abdul de "traidor do islamismo", o promotor Wasi disse ao tribunal que ele era "como um câncer dentro do Afeganistão".
Wasi disse à Associated Press (AP) que propôs retirar as acusações contra Abdul se ele voltasse ao islamismo, mas o réu recusou. "Ele disse que era cristão e que sempre seria".
Para o promotor, os afegãos são muçulmanos e tornar-se cristão é contra as leis. Por isso Abdul deve ser condenado à morte.
O juiz Ansarullah Mawlavizada Abdul está julgando Abdul, e ele disse que o veredicto será dado em dois meses.
"Não somos contra nenhuma religião em particular", o juiz disse. "Mas no Afeganistão, esse tipo de coisa é contra a lei. É uma agressão ao islamismo."
No dia 20 de março, o juiz Ansarullah disse à BBC que o estado mental de Abdul seria considerado primeiro, "antes que ele lidasse com a sharia."
O gabinete do presidente Hamid Karzai disse que o presidente não vai intervir no caso. Mas, no dia 22 de março, o conselheiro religioso de Hamid anunciou que Abdul deve ser submetido a testes psicológicos primeiro.
"Os médicos devem examiná-lo", disse Moayuddin Baluch. "Se ele tiver a mente instável, com certeza o islamismo não tem direito de puni-lo. Ele deve ser perdoado. O caso deve ser cancelado."
Paradoxo judicial
A Comissão Independente de Direitos Humanos do Afeganistão, patrocinada pelo governo, exigiu que Abdul fosse punido, embora o governo do país tenha pressa em resolver o caso de Abdul, para satisfazer as críticas internacionais. A Comissão afirma que Abdul "violou de forma clara a lei islâmica".
O apuro de Abdul dramatiza o paradoxo judicial contido na nova constituição afegã, aprovada em janeiro de 2004. Ela garante liberdade religiosa aos não-muçulmanos, mas ao mesmo tempo proíbe leis que sejam "contrárias às doutrinas da sagrada religião do islamismo".
Enquanto isso, a constituição obriga que o estado obedeça aos tratados e convenções que ele assinou. Entre eles está a Declaração Universal do Direitos Humanos. O Artigo 18 da Declaração garante de forma explícita a liberdade que o indivíduo tem de mudar sua religião ou crença.
Menos que 1% dos afegãos são não-muçulmana. Essa porcentagem é quase toda composta por hindus e sikhs. Há muitos afegãos que se declararam cristãos entre os milhões que foram para o exterior por causa dos conflitos em sua terra natal. Mas não existe nenhuma igreja no país. Os convertidos ao cristianismo temem retaliação se eles declararem sua fé.
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