Ana Cristina Pimentel da Silva, de 42 anos, não consegue tirar da cabeça a cena da filha Eloá Cristina Pimentel, 15 anos, pedindo calma na janela do apartamento onde foi mantida refém por mais de 100 horas em Santo André, no ABC. Uma semana após o seqüestro que terminou na morte de sua filha, Ana Cristina está abrigada na casa de uma “irmã” da igreja evangélica Congregação Cristã, em Santo André.
– Estou vivendo à base de remédios. Estou tão nervosa… Não consigo dormir nem comer – disse Ana Cristina, nesta sexta-feira.
O promotor Antônio Nobre, acredita que o jovem irá a júri popular em um ano, no máximo. O seqüestro durou 100 horas no apartamento da família, em Santo André.
A mãe de Eloá disse que não pode entrar em seu apartamento, que está preservado para a reconstituição do crime. Ana Cristina está, portanto, sem seus documentos e usa roupas emprestadas pela amiga da igreja.
– Estou sem dinheiro, sem minhas roupas e sem calçado. Preciso de ajuda – suplicou a mãe de Eloá.
Nesta sexta, ela foi atendida por uma psiquiatra. Ana Cristina contou que está tomando calmantes e antidepressivos. Ela não sabe quando volta para a creche onde trabalha como lactarista (profissional que prepara e distribui alimentos).
– Penso na Eloá o tempo todo. Lembro da hora que ela ficou na janela e disse: ‘Calma, mãe, calma!’ Pensei que fosse abraçá-la quando tudo aquilo acabasse – lamentou.
Como se não bastasse a dor de perder a filha, ela também precisa lidar com a situação do marido, que está escondido da polícia. Ao aparecer na TV durante a negociação do seqüestro, o pai de Eloá, Everaldo Pereira dos Santos, foi identificado em Alagoas como um foragido acusado de participar de um grupo de extermínio em 1991. Ana Cristina disse que não tem se comunicado com Everaldo.
– Não sei do meu marido, estou preocupada com ele. Isso está nas mãos do advogado (Ademar Gomes, que defende Everaldo). Que a Justiça seja feita pelo Senhor – rogou a mãe de Eloá.
A polícia de Alagoas investiga a ligação do pai de Eloá Pimentel com Lindemberg Alves. O pai de Eloá também foi indiciado por falsidade ideológica, uso de documento falso e porte ilegal de arma no processo que apura o crime. Ele adotou um nome falso em Santo André e guardava uma espingarda em casa.
Mesmo sem dormir e sob efeito de remédios, Ana Cristina se esforça para ajudar na limpeza da casa da amiga que a acolheu junto com seus outros dois filhos.
– A gente não quer ficar na casa dos outros sem ajudar – afirmou.
Ao olhar para duas semanas atrás, ela tem uma certeza:
– Eu tinha uma vida maravilhosa – disse.
O túmulo 520 do Cemitério Jardim Santo André, onde Eloá está enterrada, tem sido constantemente visitado por curiosos.
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