Funcionários do governo malaio confiscaram livros infantis cristãos no idioma inglês alegando que eles continham imagens de profetas bíblicos. Para os muçulmanos, Jesus é um profeta, mas todo e qualquer desenho ou ilustração são proibidos. A informação foi publicada pela agência de notícias online “Malaysiakini”, no dia 11 de janeiro.
O governo justificou o ato dizendo que as ilustrações dos profetas ofendem a sensibilidade dos muçulmanos. O Islã têm alguns profetas comuns com os cristãos, mas o islamismo proíbe o retrato deles.
Funcionários do Departamento de Publicações e de Controle dos textos do Alcorão, subordinados ao Ministério de Segurança, liderados pelo primeiro-ministro Abdullah Badawi, confiscaram livros cristãos de três livrarias em Johor Bahru, Senawang e Ipoh, em meados de dezembro passado.
Os livros foram enviados à sede do Departamento, em Putrajaya, para investigação. Gerentes das livrarias disseram que vão aguardar a decisão do Ministério de Segurança sobre os livros.
Violação de direitos
Em uma declaração divulgada no dia 17 de janeiro, o reverendo Hermen Shastri e secretário-geral do Conselho de Igrejas da Malásia questionou como os livros poderiam ser ofensivos a muçulmanos se eles não foram feitos para eles.
O reverendo Shastri disse energicamente que os funcionários do governo “ultrapassaram o direito deles ao confiscarem literatura cristã.”
Ele pediu urgência ao primeiro-ministro e ao gabinete dele contra regras administrativas que na prática dão ” carta branca a funcionários de execução para agirem conforme seus caprichos e fantasias.”
Ao mesmo tempo, o debate envolvendo a proibição do uso da palavra “Alá’ para designar Deus, junto aos não-muçulmanos em suas publicações e práticas religiosas voltou à tona depois que o Ministério de Segurança contou ao jornal “Sun” no dia 16 de janeiro que havia confiscado um total de 163 publicações que incluíam 18 títulos nacionalmente conhecidos nas livrarias da Malásia.
O ministro Johari Baharum nega que os livros cristãos estejam na mira do departamento. “Realizamos inspeções de rotina há muito tempo, não confiscamos apenas livros cristãos, mas também livros de outras religiões”, disse.
Palavras proibidas
Ele explicou que o uso das palavras “Alá” (Deus em árabe), “baitullah” (mesquita em Meca), “solat” (oração) e “kaabah” (santuário islâmico em Meca) são exclusivos do Islã, de acordo com o documento PU (A) 15/82 e a circular KKDN S 59/3/6/A datada de 5 de dezembro de 1986.
Em uma carta à imprensa, Gayathry Venkiteswaran, diretor- executivo do Centro de Jornalismo Independente, argumentou que “recolher mais cópias do que o necessário para a investigação consiste em confisco”.
Além disso, sustenta que “uma vez que os títulos não foram proibidos a ação nega o direito das pessoas de acessarem os livros e revelam um comportamento claramente arbitrário.”
O direito de não-muçulmanos usarem a palavra “Alá” em suas publicações e na prática religiosa está sendo testado em dois casos que devem ser apreciados pela Justiça. Um deles é contra a Igreja Evangélica de Bornéu e o outro é contra o jornal católico “Arauto” .
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