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Líderes religiosos homenageiam padre assassinado e pedem paz

Em meio ao debate global sobre as charges do profeta Maomé - feitas a princípio na Dinamarca -, muçulmanos e cristãos se reuniram, em 9 de fevereiro, em Istambul, para uma missa em memória de um padre católico que foi assassinado na cidade turca de Trabzon, costa do Mar Negro.

Andrea Santoro foi baleado duas vezes enquanto rezava na Igreja Católica Santa Maria, em 5 de fevereiro. O suspeito é um rapaz de 16 anos, que gritou a frase de abertura da chamada muçulmana para a oração. Preso em 7 de fevereiro, o adolescente apresentou motivos contraditórios por matar o padre de 60 anos. Ele até alegou vingança pelas caricaturas de Maomé, conforme o que a mídia turca relatou.

No funeral, o bispo Louis Pelatre disse que foi o caráter devoto do padre que fez o público reagir à sua morte.

Citando os comentários do papa Bento XVI, o bispo Louis usou a metáfora do Evangelho de João para comparar a vida desse padre falecido com a semente, que deve cair no solo e morrer, antes de dar frutos.

"Vamos rezar para que a sua morte não seja em vão", o bispo disse aos líderes de igrejas católicas, protestantes e ortodoxas e aos membros da comunidade muçulmana que se reuniu para o culto na igreja católica Espírito Santo. "Até esse evento horrível pode ser uma fonte de fraternidade e paz."

O representante do papa em Istambul leu uma carta do ministro de Assuntos Religiosos da Turquia, Ali Bardakoglu, que dizia que o ataque era um "grave pecado". Lida no final da missa celebrada pelo embaixador do papa, Antonio Lucibello, a carta dizia que a Turquia só poderia responder com "veemência e abominação. Esperamos que o criminoso seja capturado logo e que receba a punição que ele merece".

Em uma demonstração de solidariedade com a igreja católica, o pastor protestante Bedri Peker deu a Antonio Lucibello uma carta de condolências em nome da Aliança de Igrejas Protestantes Turcas (TEK). Lia-se na carta: "Esperamos que a morte de Andrea Santoro amoleça os corações daqueles que têm preconceito contra o cristianismo na Turquia. Que ela também os lembre que Deus é amor".

Um pastor da TEK, presente na cerimônia, disse à agência de notícias Compass que ele ficou animado com o retorno inesperado que a morte de Andrea trouxe.

Esse homem, que pediu para ficar em anonimato, disse: "Ele era um bom homem, e eu testemunho que todos estão falando sobre o evangelho agora".

Em uma carta de condolências ao papa Bento XVI, o patriarca ortodoxo armênio Mesrob II disse que ele se lembra de Andrea por "sua atitude alegre, seu profundo amor e vontade de alcançar os vizinhos muçulmanos".

O papa, em sua audiência semanal em Roma, que coincidiu com o funeral de Andrea (8 de fevereiro), disse que o padre falecido era um "silencioso e corajoso servo do evangelho". Ele espera que o sacrifício de Andrea contribua para o "diálogo entre religiões e a paz entre as pessoas".

Mais ataques

Os católicos não são os únicos cristãos a enfrentar problemas em Trabzon, que experimentou uma onda de violência nos últimos meses. Em uma entrevista, feita no dia 7 de fevereiro, com o jornal turco "Hurriyet", o presidente da TEK, Ihsan Ozbek, disse que vários protestantes foram agredidos nas cidades do Mar Negro nas últimas semanas. Ihsan pediu ao governo para proteger a minoria cristã da Turquia.

O governo e a sociedade turca ainda têm suspeitas em relação à comunidade cristã turca, que possui menos de 1% da população do país.

Embora a distribuição de livros religiosos e a conversão para outras religiões sejam legais de acordo com as leis seculares da Turquia, o proselitismo é quase sempre visto como um esforço para minar a unidade do país.

Com a morte do padre Andrea, a mídia turca publicou reportagens afirmando que o padre realizava atividade missionária. Um segundo motivo para o assassinato apareceu na edição do "Hurriyet" de 9 de fevereiro. O jornal dizia que o padre pagava ao assassino 100 dólares por mês para participar da missa, mas tinha diminuído a quantia nos últimos meses.

"Há uma razão para este tipo de ataque", disse o porta-voz da TEK durante a cerimônia. "As reportagens da mídia anticristã, entre outras coisas, criam uma atmosfera na qual esse tipo de assassinato pode acontecer."

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Ainda no dia 9, o bispo da Anatólia, Luigi Padavese, disse à agência de notícias "Asia News" que outro padre havia sido atacado por um grupo de jovens na cidade de Izmir, na costa do mar Egeu. Os rapazes agarraram o frade franciscano Martin Kmetec pela garganta, gritando "Vamos matar você". O bispo disse à "Asia News" que esse ataque foi "fruto de um fanatismo crescente".

O diário turco "Radikal" disse que o incidente, que aconteceu na Igreja Católica Sta. Helenas, foi relatado ao promotor de Izmir.

Como medida preventiva, durante o funeral do padre Andrea, mais de 100 policiais ficaram do lado de fora da igreja para fornecer segurança. O evento aconteceu sem oposição ou incidente.

"Não estávamos preocupados com bombas, era mais com a possibilidade de protestos", disse um líder. "Não esperávamos que acontecesse nada, mas ainda precisamos tomar cuidado para que não aconteça mesmo."

Revolta das charges

A imposição de leis no Oriente Médio aumentou durantes as últimas semanas, já que a revolta com as charges de Maomé se transformou em atos de violência. Os protestos, que começaram no Oriente Médio, se espalharam por toda Europa, África e Sudeste Asiático.

Publicadas no jornal dinamarquês "Jyllands-Posten" em setembro, naquilo que o editor Carsten Juste chamou de "a auto-censura que governa grande parte do mundo ocidental", as 12 charges incluíam um desenho de Maomé como um terrorista, com uma bomba em seu turbante. No dia 20 de outubro, um dos embaixadores muçulmanos para a Dinamarca reclamou ao primeiro-ministro dinamarquês que as charges mostravam Maomé como um terrorista. Muitos muçulmanos protestaram, dizendo que as charges violavam leis básicas do islamismo, que proíbem qualquer retrato do profeta.

O "Jyllands-Posten", em 31 de janeiro, publicou uma desculpa em seu website "pelo fato de as charges terem inegavelmente ofendido muitos muçulmanos". Mas, no dia seguinte, as charges foram reimpressas na França, Alemanha, Itália e Espanha, em nome da liberdade de imprensa. "Sim, temos o direito de caricaturar Deus", lia-se na manchete do diário francês France Soire.

Os protestos em todo o mundo muçulmano se seguiram, marcados por ataques contra as embaixadas dinamarquesas na Síria, Irã e Líbano, e pela morte de 10 pessoas no Afeganistão, segundo a agência Reuters. O artigo de 8 de fevereiro disse que as charges foram publicadas em, pelo menos, 22 países, incluindo o Iêmen e a Jordânia.

No Iraque, onde seis explosões simultâneas de bombas deixaram três mortos e 22 feridos, distanciar-se das charges tornou-se uma questão de vida e morte para os cristãos do país. Nos dias que se seguiram às explosões, "fatwas" (decretos religiosos) contra as charges foram lançadas por líderes religiosos na mídia local.

Durante o funeral de um garoto cristão morto nas explosões, o arcebispo caldeu de Kirkuk Louis Sako disse a uma multidão de 700 muçulmanos e cristãos que a Igreja não tinha nada a ver com as charges do profeta Maomé. Muitos dos contatos muçulmanos do arcebispo afirmaram ter recebido mensagens de texto chamando-os a se vingar dos cristãos por causa das charges dinamarquesas.

Fonte: https://www.portasabertas.org.br/noticias/2006/02/noticia2428/


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