Os líderes da Igreja Renascer em Cristo, presos em Miami no início de janeiro por tentar contrabandear mais de US$ 50 mil para os Estados Unidos, deixaram o centro de detenção federal onde passaram os últimos dias. De acordo com representantes do centro de detenção, tanto Estevam Hernandes Filho, de 52 anos, como Sonia Haddad Moraes Hernandes, de 48, saíram da instalação entre a noite de terça-feira (16 de janeiro) e a manhã da quarta (17 de janeiro).
O casal ainda terá de comparecer a uma audiência judicial em 24 de janeiro, para responder às acusações de ocultar dinheiro com a intenção de não declará-lo e mentir para autoridades da alfândega. No Brasil, os fundadores da Renascer são procurados por acusações de lavagem de dinheiro.
O Departamento de Justiça da Flórida deve definir nos próximos dias o seqüestro dos bens registrados em Miami em nome de Estevam e Sônia Hernandes, fundadores da Igreja Renascer em Cristo. A medida já havia sido determinada há quatro meses pelo juiz Antônio Paulo Rossi, titular da 1ª Vara Criminal de São Paulo, mas ainda não foi colocada em prática por conta de entraves burocráticos nos Estados Unidos.
Os promotores do Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado (Gaeco) forneceram as informações que faltavam aos policiais do FBI que acompanham o caso na Flórida – e a documentação já foi encaminhada ao Departamento de Justiça.
Levantamento feito pela promotoria de Miami mostra que o rol dos bens dos Hernandes inclui quatro casas, uma mansão em Boca Raton comprada com financiamento feito no Washington Mutual Bank e avaliada em US$ 465 mil, títulos do Resort Las Palmas – condomínio com clubes e chalés em Avon Park – e pelo menos 14 automóveis, entre eles um Land Rover, um Mercedes-Benz, um Cadillac e uma van. O casal tem ainda uma conta bancária em Miami – que também será bloqueada.
O seqüestro dos bens dos Hernandes na Flórida é uma determinação do processo que apura no Brasil os crimes de lavagem de dinheiro, evasão de divisas e estelionato contra fiéis. O bloqueio judicial dos bens dos Hernandes chegou a dez empresas, oito contas bancárias por onde teriam passado R$ 46 milhões e do Haras Agropastoril Reobot, em Atibaia, registrado em nome da filha dos Hernandes, Fernanda.
Alvo de uma operação de busca e apreensão feita por promotores do Gaeco, o haras pode agora ser alvo de intervenção. O juiz Antônio Paulo Rossi pediu os registros contábeis da propriedade ao seu administrador, José Hernandes, irmão de Estevam Hernandes. Se não apresentar a documentação, ele será afastado da administração e um interventor com plenos poderes será nomeado.
As acusações contra o casal Hernandes já provocam cismas dentro da Igreja Renascer. Também denunciados no processo que tramita na 1 ª Vara Criminal, os empresários Ricardo e Leonardo Abbud prestaram depoimento responsabilizando Estevam Hernandes pelos ´golpes´ dados no mercado por meio de empresas abertas por eles.
Os Abbud afirmaram que Estevam os convenceu a usar suas empresas alegando que iria procurar cartórios de registros para transferi-las para seu nome – mas não o fez. Também disseram que não sabiam que as empresas poderiam estar sendo usadas para fins ilícitos.
Ricardo Abbud é executivo de uma construtora e coordenou grupos de orações para empresários na Renascer. Leonardo também é ligado à Igreja. Ambos são irmãos de Antonio Carlos Ayres Abbud, bispo primaz da denominação, fundador da empresa RGC – aberta para tentar comprar a extinta TV Manchete -, e dono da Abbud Comunicação, acusada de usar o mesmo CNPJ da Fundação Renascer para conseguir financiamentos nunca pagos.
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