A Terceira Vara Criminal de Malataya marcou o início do julgamento dos assassinos confessos dos cristãos turcos Necati Aydin e Ugur Yuksel e do cristão alemão, Tilmann Geske, para o dia 23 de novembro. Entenda o caso.
Todas as notícias publicadas na semana passada pela imprensa turca faziam alarde sobre o depoimento dos assassinos à polícia, onde deram o motivo pelo qual teriam cometido o crime, incluindo acusações infundadas contra as vítimas.
Os três cristãos foram mortos depois de sofrerem tortura no dia 18 de abril deste ano no escritório da editora Zirve, no sul da província de Malataya.
Depois de seis meses de investigações confidenciais, promotores de justiça de Malataya denunciaram formalmente os cinco suspeitos pelo assassinato em 15 de outubro. Os promotores do caso pediram uma sentença de três prisões perpétuas consecutivas para os acusados.
Os réus, Emre Gunaydin, Abuzer Yildirim, Hamit Ceker, Cuma Ozdemir e Salih Guler, são acusados de organizar um grupo armado e matar as vítimas de maneira premeditada. Todos os réus têm entre 19 e 20 anos.
Outras sete pessoas foram acusadas de serem cúmplices dos acusados. De acordo com reportagens de jornais turcos, essas sete pessoas, que têm seus nomes preservados, ainda não foram presas.
Com a data do julgamento marcada, a imprensa turca fez alarde acerca de alegações escandalosas feitas pelos acusados em seus depoimentos oficiais. Todas as reportagens foram baseadas em um comunicado da Agência Anatólia, de uma fonte “semi-oficial”, próxima ao governo.
Acusações infundadas
Uma das principais manchetes foi: “Missionários ligados ao PKK”, com matéria destacando a declaração dos acusados de que três das vítimas “prestavam louvores” ao violento e separatista Partido dos Trabalhadores do Curdistão (PKK, sigla em inglês).
O grupo terrorista PKK matou mais de 40 turcos, soldados e civis, no mês passado na região sul da Turquia próximo da fronteira com o Iraque. Pelo menos 30.000 cidadãos turcos já morreram em decorrência de embates entre o PKK e o exército turco desde 1984.
A manchete do jornal “Sabah” citava Emre Gunaydin, acusado de liderar os demais acusados no crime. “Nós os matamos porque temíamos que eles pudessem machucar nossas famílias”.
O jornal “Hurriyet”, de grande circulação, fez de um pastor protestante do oeste da Turquia um alvo fácil ao publicar seu nome em uma de suas manchetes. A reportagem trazia uma declaração de Emre onde ele dizia que planejava uma viagem para matar um pastor, uma vez que já havia matado outros três.
A maior parte das matérias dos jornais também trazia a declaração de Emre de que os cristãos estariam forçando meninas da localidade a se tornarem prostitutas.
“A partir dessas declarações, está claro que existe um grupo bastante influente por trás dos acusados”, disse o porta-voz da Aliança das Igrejas Protestantes da Turquia, Isa Karatas, ao Compass. “Essas pessoas querem transformar os cristãos em inimigos da nação”.
“Ao mesmo tempo”, continua ele, “por ser a honra um conceito tão importante em nossa cultura, eles tentam nos acusar de atos imorais, e assim encontrar uma justificativa para seus crimes”.
Os assassinos alegaram que o motivo para terem torturado e matado Necati, Ugur e Tilmann de maneira tão terrível foi para impedir os cristãos de difamarem o islã e a nação turca ( leia mais). Os três cristãos deixaram duas esposas, cinco filhos e uma noiva.
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