Era pouco antes das 20h, quando tiros foram ouvidos próximo a vila de Foron. Um líder cristão conta sobre a tentativa, sem sucesso, de afastar o ataque dos pastores fulani, grupo radical islâmico, enquanto moradores fugiam ou tentavam se esconder. Levou uma hora para que as forças de segurança chegassem. No total, 10 pessoas foram mortas, entre elas o reverendo Adamu Gyang Wurim, de 67 anos, sua esposa, Jummai, de 45 anos, e os filhos, Theophilus, de 20 anos, Dung, de 12, e Wurim, de 8. A igreja onde o reverendo Wurim servia e outras 95 casas foram queimadas. Os pastores fulani ainda saquearam e destruíram 225 fazendas com plantações prontas para colheita.
Longe, na faculdade em Jos, estava Gyang, de 27 anos, outro filho do reverendo Wurim. A princípio, ele não soube sobre o que tinha acontecido com sua família. “Por volta das 20h, eu estava conversando com amigos no Facebook quando vi uma publicação que Foron estava sob ataque, e que um pastor e sua família inteira morreram. Eu comecei a tremer, percebendo que podia ser minha família. Eu imediatamente tentei fazer algumas ligações. Primeiro liguei para meu pai. O telefone estava desligado. Liguei para minha mãe e foi a mesma coisa. Liguei para o telefone do meu irmão e também estava desligado. Eu fiquei muito assustado”, conta.
Então ele decidiu ligar para o pastor assistente da igreja e ele confirmou os piores medos de Gyang. “Meu pai e dois dos meus irmãos foram queimados vivos no quarto onde se esconderam. Minha mãe foi baleada no banheiro enquanto se escondia. Meu terceiro irmão foi esfaqueado na fazenda. Eu estava confuso e não acreditava no que ouvi. Eu não conseguia dormir, chorar, nem dizer uma palavra. Estava completamente em choque”, lembra.
Na manhã seguinte, ele viajou para Foron. Ao chegar, foi direto para casa, que estava completamente queimada e tinha muitas pessoas reunidas. Os corpos de seu pai, mãe e três irmãos não foram retirados do local, apesar de todos os que morreram terem sido enterrados no mesmo dia em uma cova coletiva. Desde então, Gyang foi levado por seu tio, que está tentando ao máximo cuidar dele. “Eu ainda acho difícil acreditar que toda a minha família se foi e eu nunca mais vou vê-los. Todos os dias espero que alguém me acorde deste pesadelo”, desabafa.
Graças a seu apoio, a Portas Abertas pode iniciar um aconselhamento pós-trauma para Gyang e ajudar em suas necessidades físicas, como recursos para que complete seus estudos. “Eu sei que isso deixaria meu pai orgulhoso”, afirma. Além disso, a Portas Abertastambém está disposta a ajudar em necessidades espirituais que possam surgir.
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