Um exame de rotina realizado no início de 2005, durante a pré-temporada do São Caetano, mudou drasticamente a carreira – e a vida – do centroavante Fabrício Carvalho. Artilheiro e destaque da equipe na temporada anterior, cobiçado por outros clubes, o jogador teve diagnosticada uma arritmia cardíaca. Desde então, luta para retomar a carreira e se livrar da pecha de atleta problemático.
Entretanto, a primeira seqüência de jogos desde que o problema no coração foi descoberto não é a única preocupação de Fabrício Carvalho atualmente. Ele também pensa em vender CDs e conciliar as partidas com seus shows musicais.
Fabrício Carvalho passou quase dois anos longe dos gramados depois que o problema no coração foi diagnosticado – ele foi afastado em fevereiro de 2005, no São Caetano, e voltou a treinar em novembro da temporada seguinte, no Goiás. Nesse período, aproveitou para desenvolver seu trabalho nos palcos, como cantor gospel.
Mas a empreitada na música não surgiu repentinamente. Ao contrário, o jogador toca violão e canta desde a infância. Durante o período em que esteve afastado dos gramados, Fabrício Carvalho aproveitou para reunir composições e gravar seu primeiro CD. Os discos são vendidos por ele, que faz shows em templos evangélicos. Todo o dinheiro arrecadado é revertido para iniciativas relacionadas à Igreja.
Além do sucesso como músico, Fabrício Carvalho busca uma retomada em sua carreira como atleta. O atacante havia sido o grande destaque do São Caetano na temporada 2004, mas não conseguiu ter uma seqüência de partidas desde que o problema foi descoberto.
No último ano, Fabrício Carvalho fez exames de três em três meses e não teve nenhuma complicação detectada em seu coração. O problema do jogador passou a ser a parte física – além do excesso de peso, o atacante passou a conviver com a perda de força e massa muscular em função do tempo em que ficou parado.
O centroavante chegou a ser afastado do elenco do Goiás no início de 2008, a pedido do então diretor-técnico Artur Neto. Depois, o treinador Hélio dos Anjos solicitou a reintegração do jogador. Todavia, Fabrício Carvalho não conseguiu convencer o comandante e acabou dispensado.
Quando a carreira parecia em declínio, Fabrício Carvalho ganhou nova oportunidade na Portuguesa, time que ofereceu a ele um contrato até dezembro deste ano. Sem jogar desde a partida do Goiás contra o Corinthians, na reta final do Campeonato Brasileiro do ano passado, o centroavante ainda tenta consolidar seu retorno aos gramados. Mas sem esquecer a música nas horas vagas.
Pelé.Net – Você não teve uma seqüência de jogos durante a passagem pelo Goiás. Qual é a expectativa para o futuro, na Portuguesa?
Fabrício Carvalho – É muito grande. Eu não vinha sendo aproveitado, e tenho agora uma grande oportunidade. Estou de volta a São Paulo, que é um lugar em que eu gosto muito de jogar, e vou defender um clube que escancarou as portas para mim em um momento difícil. Sei que a situação é complicada, desconfortável, mas já pude ver que o grupo é forte e espero contribuir para evitar o rebaixamento.
Pelé.Net – Durante a passagem pelo Goiás, você chegou a ser afastado e reintegrado. Por que isso aconteceu?
Fabrício Carvalho – A única explicação que eu recebi foi que o treinador não usaria um jogador de referência na área. Ele pediu minha reintegração, mas tinha a idéia de usar uma formação tática diferente. Foi uma opção do Hélio dos Anjos, e eu respeito muito isso. Nunca entrei em atrito com nenhum profissional e não faria isso agora. É claro que foi uma situação chata, mas foi uma opção tática e eu aceitei na boa.
Pelé.Net – Qual é sua condição física atual e quanto tempo você precisa para estrear na Portuguesa?
Fabrício Carvalho – Eu tenho de ser bem realista: estou há um bom tempo sem atuar. A Portuguesa conta com um treinador inteligente, que é o Estevam Soares, e eu sei que ele não vai me utilizar enquanto não for a hora certa. Estou trabalhando, fazendo uma movimentação e realizando um processo de adaptação. Ainda preciso de uma seqüência de treinos, mas acredito que posso estar pronto em mais uma semana.
Pelé.Net – Você tem feito algum trabalho específico para recobrar a condição física?
Fabrício Carvalho – Tenho treinado junto com o grupo, mas tenho feito atividades de fortalecimento. Você acaba perdendo muita coisa pela falta de seqüência. Até a coordenação dos movimentos é mais difícil, ma isso é normal. Nunca tinha ficado tanto tempo parado.
Pelé.Net – Inevitavelmente, seu afastamento dos gramados é vinculado ao problema que você teve no coração. Ainda existe alguma seqüela ou conseqüência disso?
Fabrício Carvalho – De forma alguma! Fiquei o ano passado todo sendo monitorado de três em três meses, fiz todos os exames que me pediram no Goiás e até superei os números que deveria alcançar. Infelizmente, ainda enfrento muita resistência por causa disso. Alguns médicos tiveram receio e clubes fecharam as portas.
Só tenho a agradecer ao doutor Sérgio Rassi, que é muito competente e viabilizou meu retorno. Ele confiou no taco dele, fez todos os exames e me possibilitou voltar aos gramados. Agora eu só preciso de uma seqüência para voltar a fazer gols. O Washington foi assim, e hoje as pessoas mal lembram que ele teve o problema.
Pelé.Net – O período desde que o problema no coração foi detectado, em 2004, mudou alguma coisa em sua forma de jogar? Você precisou se adaptar a uma condição física diferente?
Fabrício Carvalho – As pessoas aliam o tempo sem jogar a esse problema, mas não foi só isso. Eu estava recuperado no Goiás, fazendo atividades normais, e não entrei em campo por outros motivos. Continuo sendo o mesmo jogador de superação, de bastante vontade, e espero fazer na Portuguesa os gols que a minha posição exige.
Tenho procurado voltar à velha forma, porque ficar dois anos parado para um cara do meu biotipo é complicado. Perdi muita coisa. Sofri muitas lesões no ano passado porque eu tinha perdido muita força muscular.
Pelé.Net – O Estevam Soares, técnico da Portuguesa, chegou a dizer que você seria um exemplo de superação importante para o grupo. De que forma você pensa em usar essa experiência para ajudar o elenco?
Fabrício Carvalho – Eu procuro compartilhar o que eu passei com as pessoas que me cercam, porque acho que isso ajuda a encarar os problemas de frente e de cabeça erguida. Isso também serve para o elenco, e eu só tenho a agradecer pela confiança que o Estevam teve em mim. Até hoje eu dou testemunhos sobre meu caso. Como sou evangélico, falo na igreja. E o Paulo Ramos, jogador do Vila Nova que foi afastado recentemente por um problema similar, veio conversar comigo.
Pelé.Net – Você já tentou dar uma dimensão a tudo que perdeu na carreira pelo tempo em que ficou parado?
Fabrício Carvalho – Quando eu paro para pensar nisso, realmente me entristeço um pouco. Fui muito prejudicado, principalmente pelo momento em que o problema aconteceu. Vários clubes estavam interessados em mim na época, mas a situação interrompeu uma fase áurea. Mas não posso ficar me remoendo agora. Tive um breque na minha carreira, mas estou recuperado e preciso aproveitar isso. Preciso ver as coisas pelo lado bom: o tempo longe dos campos me ajudou a desenvolver a carreira na música.
Pelé.Net – Qual é o estilo de música que você toca?
Fabrício Carvalho – Eu até gravei um CD durante o período em que fiquei longe. Faço música gospel, e fui procurado por um produtor de São Paulo, chamado Luciano Clau, para fazer um trabalho com esse sentido. De alguma forma, essa fase serviu para algo maravilhoso. Podemos dizer que é uma linha melódica mais romântica.
Pelé.Net – É possível conciliar as trajetórias nos campos e nos gramados?
Fabrício Carvalho – O futebol é minha profissão, e a música é algo mais ligado à parte espiritual. Eu procuro fazer as coisas nas férias ou nas folgas, sempre que dá um tempo para me apresentar. Mas meu foco é meu trabalho como jogador. Sempre procuro tocar, mas o tempo no futebol é bastante escasso.
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