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A Igreja Universal do Reino de Deus (IURD) trabalha com o imaginário do povo, mas com o sinal invertido. Ela trouxe para o campo cristão elementos bíblicos que o demônio teria levado para o campo afro-brasileiro, como justifica o líder da Universal, o bispo Edir Macedo.
“O neopentecostalismo absorve um conjunto de práticas dos terreiros, como as entidades, o uso de velas coloridas, as rosas vermelhas e brancas, aparatos como sabonete do descarrego ou óleo da purificação”, explicou o professor Vagner Gonçalves Silva, da Universidade de São Paulo (USP), ao repórter Paulo Hebmüller.
Ou seja, agregou o professor Departamento da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, “a IURD precisa e vive de quem ataca”. A Universal, analisou Vagner, é bastante inventiva e dinâmica ao trabalhar com os símbolos que estão presentes no imaginário, aplicando-os na igreja.
Na Sexta-Feira Santa a IURD oferece cultos rituais com flores, perfumes, sabonetes abençoados de descarrego, como fazem as religiões de matriz afro-brasileira, pois entendem que se trata de um dia de fechamento do corpo.
Na festa de São João, em julho, com fogueiras e danças, os afro-brasileiros realizam a fogueira de Xangô, e a IURD promove a Fogueira Santa de Israel, comparou Vaner.
Os cultos neopentecostais demonizaram Exu, uma entidade da matriz afro-brasileira que tanto faz o bem como o mal, dependendo da negociação do sujeito. Mas ao ser usado pelo sistema neopentecostal, Exu vira o demônio absoluto.
Vagner apontou, na entrevista, ao preconceito verificado nas escolas contra as religiões afro-brasileiras “por conta de alunos que são de família evangélica”, em que nem mesmo coordenadores pedagógicos e diretores estão interessados em estudar o fenômeno afro-brasileiro sob o aspecto cultural.
“Se você tiver aula sobre a cultura da Grécia, vai aprender sobre os seus deuses. Mas nenhum professor, ao ensinar mitologia grega, dirá aos seus alunos para acreditarem em Zeus ou Apolo. Quando se trata de falar sobre as culturas e heranças africanas, há professores se negando a ensinar questões relativas aos orixás”, disse Vagner.
O preconceito, a discriminação e o racismo, tão presentes na sociedade brasileira, afloram de outra maneira, não mais no discurso de negro em si, mas arrolando que essa herança não trouxe “elementos positivos”.
As pessoas, argumentou Vagner, “começam de novo a associar o mal ao negro. No discurso do pastor, as religiões são más porque nelas existe um demônio, e o nome desse demônio é Exu, uma entidade africana”.
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