A teoria da evolução de Charles Darwin pode ter sido uma calda difícil de engolir para a Igreja ao longo dos anos, mas com o 200º aniversário do nascimento do naturalista na Quinta-feira, as igrejas celebram o seu contributo para a Ciência e para a compreensão da Criação de Deus.
“Os cristãos acreditam que Deus criou o Mundo. Charles Darwin deu o primeiro relato científico bem-sucedido de uma parte importante da Criação de Deus: como a vida se desenvolveu desde a mais simples das formas até à extraordinária variedade vemos à nossa volta”, disse o Reverendo Dr. Philip Luscombe, reitor da Wesley House, em Cambridge, e Presidente da Federação Teológica de Cambridge.
“Ao fazê-lo, Darwin excluiu algumas das formas que muitos tinham assumido de como Deus operava. Mas como ele próprio deixava claro, nada do que ele escreveu afectava a majestade de Deus na Criação.”
A Rev. Jenny Ellis, Directora para a Espiritualidade e Discipulado da Igreja Metodista, disse que a teoria científica de Darwin sobre os mecanismos da Criação veio a permitir às pessoas apreciarem a “verdade da fé” contida nas histórias bíblicas e o “precioso valor e dotes da Criação, por Deus infundida.”
“As histórias transmitem o sentido do quão maravilhosa e boa é a Criação; do Espírito criativo, divino que a traz à existência e a sustenta; da profunda interdependência existente na Criação, do seu ritmo e equilíbrio”, expressou ela.
O Dr. Luscombe disse que o trabalho de Darwin revelou o poder da teoria da evolução através da selecção natural e abriu o caminho para a ciência moderna.
“O projecto do genoma humano é apenas o exemplo mais recente de pesquisa que é, em última instância, inspirada por Darwin. Toda a ciência biológica moderna depende da fundação dada por Darwin “, disse ele.
Os seus comentários vêm na altura em que importantes cientistas e líderes religiosos publicaram uma carta no Daily Telegraph, apelando ao fim da querela sobre a teoria de Darwin.
“Acreditamos que a Evolução foi apanhada no fogo cruzado de uma batalha religiosa, na qual o próprio Darwin, pessoalmente, tinha pouco interesse”, escreveram os signatários, que incluíam dois bispos da Igreja de Inglaterra, um porta-voz do Conselho Muçulmano da Grã-Bretanha e um membro da Aliança Evangélica.
“Encorajamos respeitosamente aqueles que rejeitam a Evolução a pesarem as evidências esmagadoras dos dias de hoje, enormemente reforçadas pelos recentes avanços na genética, que atestam a validade da teoria”, lia-se na carta. “Simultaneamente, pedimos com respeito aos darwinistas contemporâneos que aparentemente têm a intenção de usar a teoria de Darwin como veículo para promover uma agenda ateísta, que desistam de fazê-lo, porque demovem, ainda que involuntariamente, pessoas da teoria.”
“Neste ano em que se assinalam tantas outras datas, deveríamos estar a comemorar as grandes realizações de Darwin na biologia, e não a discutir por causa do seu legado como uma espécie de anti-teólogos.”
O ano de 2009 também marca o 150º aniversário da obra de Darwin – A Origem das Espécies, onde ele assentou a sua teoria da evolução – e as igrejas estão a assinalar ambas as datas com seminários, exposições e eventos especiais.
“Reunimo-nos em celebração da vida e obra de Darwin porque ele nos ajudou a melhor entender a sofisticação da Criação de Deus, e nos obrigou a combater mais uma vez os eternos problemas do bem e do mal”, acrescentou o Dr. Luscombe.
A Igreja Anglicana marca os aniversários com o lançamento de uma nova secção no seu sítio da Internet, destacando o “esquecido” serviço de Darwin à igreja da sua paróquia local de Downe, no Sul de Inglaterra.
A secção foi lançada pela Igreja para demonstrar que a Ciência e o serviço à igreja não são mutuamente excludentes e que, embora Darwin tenha perdido a sua própria fé na religião cristã, ele ainda apoiava a igreja e não se tornou anti-religioso.
Artigos contam a forma como Darwin costumava encarregar-se das finanças da igreja e da escola, foi fundador e tesoureiro durante 30 anos de um “Clube Amistoso”, e dirigiu o Fundo para o Carvão e Roupas local durante 21 anos.
O Reverendíssimo Dr. Lee Rayfield, Bispo de Swindon e antigo biólogo, declarou: “Este bicentenário dá-nos uma oportunidade muito necessária para reunir uma melhor apreciação sobre Charles Darwin, a sua vida e o seu trabalho. Espero que estas páginas ajudem a uma reflexão mais ampla sobre a relação entre as convicções religiosas e a investigação científica de maneiras criativas para a nossa época.”
No início da semana, o líder da Igreja Católica na Inglaterra e País de Gales, Cardeal Cormac Murphy-O’Connor, descreveu Darwin numa coluna do jornal The Times como “um dos mais extraordinários cientistas da Grã-Bretanha” e considerou a sua teoria da evolução “uma das maiores descobertas de todos os tempos”.
De acordo com o diário britânico The Telegraph, o Padre Giuseppe Tanzella-Nitti, Professor de Teologia na Pontifícia Universidade de Santa Croce, em Roma, disse que Santo Agostinho e São Tomás de Aquino tinham chegado a conclusões semelhantes às de Darwin sobre o desenvolvimento do mundo natural.
Ateus e cristãos continuam a discordar sobre a teoria de Darwin. De acordo com uma sondagem a mais de 2.000 pessoas, recentemente publicada pela Theos, instituição especializada em religião, mais de metade dos britânicos acredita que a Teoria da Evolução não pode explicar a complexidade do mundo natural. Um em cada três afirmou crer que Deus criou a Terra nos últimos 10.000 anos.
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