RIO – A Igreja Universal do Reino de Deus (IURD) tenta intimidar jornalistas através de ações orquestradas na Justiça. Fiéis e pastores da seita ajuizaram cerca de 50 ações de danos morais contra a “Folha de S.Paulo” e a jornalista Elvira Lobato, após publicação de reportagens, em 15 de dezembro passado, sobre o império de comunicação montado pelos “bispos” que controlam a Universal. Também contra o “Extra” e seu diretor de Redação, Bruno Thys, cinco pastores da seita, de diferentes cidades do Estado do Rio, entraram com ações pedindo indenização por danos morais. Todos alegam se sentir ofendidos com reportagem sobre um fiel da Universal que danificou uma imagem de São Benedito, na Bahia.
Nos processos contra a “Folha” e Elvira, pedindo indenizações de R$ 1 mil a R$ 10 mil, os pastores e fiéis alegam que sofreram prejuízos morais com a reportagem. Como as ações foram propostas em lugares distantes – todos a mais de 200 quilômetros da capital de diferentes o estado – e apresentam até trechos iguais, Elvira desconfia de uma tentativa orquestrada de intimidação.
Segundo a reportagem de Elvira Lobato – “Universal chega aos 30 anos com império empresarial” – publicada em 15 de dezembro, a seita tem 23 emissoras de TV e 40 de rádio, além de outras 19 empresas registradas em nome de 32 integrantes da IURD. Entre elas, há dois jornais diários, duas gráficas, quatro empresas de participações, uma agência de turismo, uma imobiliária, uma empresa de seguro de saúde e uma de táxi aéreo, a Alliance Jet.
A reportagem da “Folha de S.Paulo” diz ainda que as empresas estão registradas em nome de “bispos” ligados a Edir Macedo, fundador da seita, e muitas funcionam em endereços da Universal. Alguns “bispos” deixaram as empresas após desentendimentos com a seita ou por terem sido denunciados em escândalos.
Segundo a “Folha”, a Universal é a maior proprietária de concessões de TV do país: são 23 emissoras de TV e 40 emissoras de rádio registradas em nome de pastores. A seita arrenda 36 rádios, que integram a Rede Aleluia. Segundo pesquisa feita pelo jornal, Macedo é dono de 99% das ações da TV Capital, geradora da Rede Record em Brasília; de 50% da TV Sociedade, de Belo Horizonte; de 48% da TV Record do Rio; e de 30% da Record de São José do Rio Preto (SP). O valor atual estimado da Rede Record é de R$ 2 bilhões.
A série de ações judiciais de pastores e fiéis da Universal contra a “Folha de S.Paulo” e a repórter Elvira Lobato – por causa de uma reportagem publicada em 15 de dezembro que mostrava o crescimento empresarial da seita – foi classificada por entidades e especialistas como tentativa de intimidação contra o jornal e a jornalista. Para Alberto Dines, do Observatório da Imprensa, as ações representam uma violência contra a liberdade de expressão e são uma tentativa de censura prévia:
– A Elvira Lobato cobre essa área de comunicação e telecomunicação há pelo menos há dez anos. Ela não faria nada que não fosse bem feito. Ela contou aquilo que todo mundo sabe, e não escreveu nada errado. O que estão fazendo com ela é uma violência, não é só uma censura, é intimidação. A intimidação também é crime, e é pior que censura. O que importa é condenar o fato de as pessoas da igreja serem acionadas, numa ação orquestrada. Ainda bem que esse tipo de processo já está sendo desqualificado pela Justiça – afirmou Dines.
ONG relembra casos de assassinato, censura prévia e controle da internet
No capítulo dedicado ao Brasil em seu relatório anual, a organização não-governamental “Repórteres sem Fronteiras” destaca o assassinato do colunista Luiz Barbon Filho, dos veículos “Jornal do Porto” e “JC Regional”, de Porto Ferreira (SP), como fato marcante de atentado à liberdade de expressão. Barbon Filho foi morto por dois motociclistas após denunciar um esquema de abuso sexual de adolescentes envolvendo empresários e autoridades locais. A entidade lembra ainda de casos como os atentados sem morte contra João Alckmin, da “Rádio Piratininga”, que investigava a indústria do jogo, e Amaury Ribeiro Júnior, do “Correio Braziliense”, baleado enquanto fazia matérias sobre o crime no entorno do Distrito Federal.
O relatório da ONG aponta que em 2007 houve uma melhora na relação entre o governo federal e “parte da mídia que era hostil ao presidente Lula”, mas chama atenção para ataques de governistas contra a imprensa. Cita o caso do ex-ministro Luiz Gushiken (Comunicação de Governo e Gestão Estratégica), que teria entregado em janeiro do ano passado à Polícia Federal uma lista de jornalistas “suscetíveis a atingir sua honra”, citando nomes de “Istoé”, “Veja” e “Carta Capital”.
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