De acordo com a agência de notícias France Presse, o Ministério Público argelino aceitou as acusações criminais de um imã (líder religioso islâmico) contra um escritor que expressa publicamente suas opiniões e críticas à fé islâmica. O escritor é conhecido como Kamel Daoud, também é jornalista, tem 45 anos e atualmente é colunista do jornal francês Le Quotidien d'Oran, onde escreve seus artigos baseados no tema Raina Raïkoum (Minha opinião, a sua opinião). Kamel já foi indicado para o Prêmio Renaudot, uma das mais importantes premiações literárias da França. Quando ele se refere ao Estado Islâmico, escreve coisas do tipo: "Eles cortam gargantas, matam, apedrejam, decepam mãos, destroem a herança comum da humanidade e desprezam arqueologias, mulheres e não muçulmanos. Já a Arábia Saudita é mais bem vestida e organizada, mas faz as mesmas coisas", escreveu em um de seus artigos para o jornal New York Times.
Em abril de 2015, o trecho de um de seus livros foi destaque na revista New Yorker, onde o autor expressou sua opinião baseada no título "Veja o que o Estado Islâmico fez com a Arábia Saudita", além de outros textos que foram publicados em jornais locais e que atraíram a atenção da militância muçulmana. Suas opiniões também foram parar na mídia eletrônica, o que aumentou ainda mais a repercussão do caso. "O governo argelino não tolera aqueles que criticam o islã e age com muita violência contra os apóstatas do Estado. Eles ferem a liberdade de expressão e de imprensa nesse país", comenta um dos analistas de perseguição. A Argélia é o 37º país na Classificação da Perseguição Religiosa atual, onde o islã se torna cada vez mais visível e impositivo. A igreja no país ainda é muito jovem e sofre as consequências por divulgar o cristianismo.
Embora Kamel não esteja defendendo os cristãos, seu posicionamento contra os extremistas islâmicos é relevante e justo. Ele já declarou uma vez: "A religião é um transporte coletivo que eu não pego. Prefiro ir até esse Deus a pé, não em viagem organizada". Mas suas declarações lhe renderam uma "fatwa" (decisão judicial que pode chegar a uma sentença de morte), ao que ele respondeu: "Eles me reprovam por minha tomada de posição contra os extremistas islâmicos, porque falo com liberdade e conhecimento de causa, já que na juventude fui simpatizante desses movimentos, e porque escrevo em francês; fui acusado de ser sionista e pró-francês", disse ele em entrevista ao jornal Folha de S. Paulo, durante o Salão do Livro de Paris. Depois completou: "Minha morte pode chegar de qualquer jeito e a qualquer hora. Ao mesmo tempo, não me faço de herói, todo mundo está ameaçado, a civilização está ameaçada. Quando 200 estudantes são sequestradas pelo Boko Haram, acho indecente falar de mim", finalizou o jornalista. Ore por essa nação.
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