O ataque de um grupo extremista muçulmano a um shopping no Quênia semanas atrás chamou a atenção do mundo para a intolerância religiosa e a violência contra os reféns, que eram assassinados caso não soubessem o nome da mãe de Maomé ou uma prece islâmica.
Uma mãe que estava no shopping com seus dois filhos fingiu-se de morta e garantiu que seus filhos também ficassem quietos para evitar que se tornassem alvo dos terroristas. A imagem circulou o mundo.
Faith Wambua estava no local com a filha de nove anos, Sy, e o filho de Ty, de 1 ano e nove meses, quando o ataque aconteceu. Ela ficou quatro horas e meia fingindo estar morta, até que o policial Iyad Adan os resgatou.
“Nós estávamos procurando o florista quando ouvimos um barulho muito alto: ‘bang’. Eu achei que o prédio estava caindo e que a melhor coisa a fazer era deitar em uma área aberta. Então eu disse às crianças: ‘deitem-se, deitem-se’. Eu achei que se tratava de um roubo e que em seis minutos estaria tudo resolvido. Mas o tempo passou e ninguém apareceu para dizer ‘ok, podem levantar, eles se foram’. Minha filha começou a orar alto dizendo: ‘Jeová, jeová, por favor, nos proteja’. Eu lhe pedi que abaixasse o volume por medo que ela denunciasse nossa localização. Eu não sabia o que estava acontecendo, só tinha certeza de que tinha de manter as crianças quietas. Estava preocupada com meu filho porque ele estava havia horas sem comer e temia que levantasse e começasse a chorar. Então coloquei meu dedo em sua boca para confortá-lo”, relatou a mãe.
Faith, que significa fé em português, afirmou em entrevista à BBC que foi um milagre ter saído viva: “Num dado momento, os atiradores chegaram muito perto. Eu podia sentir o cheiro de pólvora e ouvir os cartuchos de balas caindo no chão. Sabia que a gente ia morrer. Então comecei a cantar baixinho uma música sobre ressurreição. Eles então se aproximaram de uma mulher que estava deitada a cerca de dois metros de nós. E chamaram: ‘mama, mama’. Não sabia se estavam falando comigo ou com ela, mas sabia que não podia levantar a cabeça. A mulher então respondeu e, menos de cinco segundos depois, ouvi dois tiros e a mulher se calou. Ela começou a gemer: ‘Eu estou morrendo, estou morrendo’. Eu não podia fazer nada, e sabia que seríamos os próximos. Foi quando um milagre aconteceu. Não sei como não nos viram, estávamos tão perto dela”, afirmou.
A mulher afirmou ainda que por medo de ser morta pelos terroristas, continuou se fingindo de morta quando o policial chegou para efetuar o resgate: “Um tempo depois senti alguém tocando na minha mão e pensei: Meu Deus, eles nos acharam. A pessoa então disse: ‘Mama, mama, mama, você está bem?’ Nesta hora eu realmente me fingi de morta. Ele perguntou de novo e eu não disse nada. Ele começou a se mover e se posicionou à nossa frente. Ele encostou no meu filho e depois na minha filha e ela decidiu confiar nele. Ela levantou a cabeça e perguntou: ‘Quem é você?’ Ele então respondeu: ‘Eu sou um policial’. Neste hora eu levantei minha cabeça e olhei para ele. No início estava cética porque ele estava vestindo um paletó, mas depois me mostrou seu uniforme. Ele disse: ‘Estou aqui para ajudar vocês’. E minha filha disse: ‘Como eu posso saber que você não é um dos moços ruins’? Ele então nos mostrou policiais posicionados nos andares de cima apontando para várias direções. Ele então nos pediu para levantar. Ele foi muito gentil e até me lembrou de pegar minhas chaves. Pegou meu filho no colo e minha filha saiu andando na frente. E foi assim que a gente conseguiu escapar”, resumiu, aliviada.
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