Uma família iraniana convertida ao cristianismo pode enfrentar prisão, sentença de morte e o casamento forçado de sua filha, se as autoridades turcas os deportarem de volta para o Irã nos próximos dias, depois de quase três anos de tentativas fracassadas de obtenção do status de refugiados da ONU.
Uma ordem de deportação emitida em 5 de outubro pela polícia turca, em Kastamonu, dá a Zivar Khademian e seus três filhos adultos 15 dias para que deixem a Turquia ou serão obrigatoriamente repatriados de volta para o Irã.
Poucas nações concedem visto, mesmo que limitado, para qualquer um dos milhares de refugiados iranianos na Turquia que tentam se estabelecer em um país estrangeiro. Embora a Turquia emita um visto automático de três meses para os cidadãos iranianos, seus procedimentos de imigração resistem às tentativas de reinstalação de iranianos em um terceiro país.
Então, sendo pressionada pelo prazo final de 20 de outubro, a família de quatro membros fez suas malas para partir de Kastamonu, planejando procurar anonimato em uma das grandes cidades da Turquia, enquanto busca alguma solução para obtenção de visto.
"Não conseguimos encontrar uma maneira legal para sair da Turquia", um deles disse a Compass. "Precisamos nos esconder para evitar que sejamos presos e deportados de volta para ao Irã".
Juntamente com sua filha Fatemeh Moini, de 19 anos, e seus filhos Hossein e Kazem Moini, ambos com pouco mais de 30 anos, a viúva Zivar foi batizada há vários anos em uma igreja protestante em Teerã.
A família decidiu sair do Irã em janeiro de 2003, depois que os parentes, os vizinhos e as autoridades locais ficaram sabendo que ela e seus filhos se tornaram cristãos.
Mais especificamente, Zivar quis evitar que um parente muçulmano radical se casasse com sua filha Fatemah Moini, que, ao nascer, foi prometida em casamento para esse primo. Agora com 35 anos, o primo vive na cidade islâmica santa de Qom e é um membro ativo da Basij, uma milícia voluntária que executa códigos islâmicos severos no Irã.
Embora a mãe e a filha tivessem sido muçulmanas praticantes, elas foram profundamente impactadas pelas ligações telefônicas do Canadá feitas pelo filho mais velho, Faheem Moini, que havia se convertido e pediu que elas começassem a ler o Novo Testamento. Somente depois que as duas aceitaram o cristianismo, elas admitiram para os outros dois filhos, que eventualmente as acompanhavam às reuniões da igreja em casa.
Finalmente, toda a família acabou tendo problemas quando Kazem Moini foi preso, em maio de 2002. Durante a revista na casa deles, a polícia encontrou fitas cassetes cristãs e outras fitas que haviam sido copiadas secretamente.
Kazem Moini permaneceu na prisão durante seis meses, enquanto seu irmão Hossein estava escondido, e sua mãe e irmã eram sujeitas à fiscalização policial regular.
Quando a família conseguiu juntar dinheiro suficiente para pagar a fiança e tirar Kazem Moini da prisão, as condições para sua libertação foram severas. Ele foi forçado a prometer ser espião das atividades cristãs evangélicas para a polícia, e a família tinha que renunciar à posse da casa como caução para a fiança de Kazem.
Entretanto, um mês depois que ele foi liberto, a família conseguiu vender o carro, encontrar um passaporte no mercado negro para ele e comprar passagens de trem para irem à Turquia, que é o país vizinho. A família cruzou a fronteira em 11 de janeiro de 2003.
Depois de passar pelos exigidos procedimentos de imigração, três dias mais tarde, na sede do Alto Comissariado para Refugiados da ONU (UNHCR), em Ancara, os quatro solicitaram o status de refugiados. Mas, dentro de quatro meses, o UNHCR rejeitou a família, declarando que suas alegações "não eram dignas de crédito".
"Seu testemunho não foi considerado plausível", declarava a carta de rejeição, datada de 27 de maio de 2003, prosseguindo: "O prejuízo que vocês sofreram ou o temor que vocês têm não se relaciona com quaisquer dos cinco fundamentos da Convenção da ONU citadas acima"- um dos cinco sendo a religião. A família apresentou provas de que Kazem Moini havia estado na prisão, juntamente com as cópias dos seus certificados de batismo.
Conforme as leis do Irã, a apostasia ao islã está listada, ao lado de assassinato, roubo armado, estupro e tráfico de drogas, como crime capital.
Dentro de um mês, a família apelou da decisão mas, em agosto de 2003, as autoridades turcas enviaram a família de Ancara para Kastamonu a fim de esperar por uma decisão do UNHCR.
Quinze meses mais tarde, Zivar soube que a Justiça Suprema da República Islâmica do Irã havia emitido uma ordem de prisão para ela, incriminando-a, conforme o estatuto islâmico nº 471, por apostasia e abandono do Islã. A ordem de prisão da justiça mostrada a Compass foi emitida em 28 de outubro de 2004 e enviada para o antigo endereço de Zivar, em Teerã.
Embora a família tivesse imediatamente levado o documento para Ancara e entregue ao UNHCR, ela não obteve resposta. Em 5 de fevereiro de 2005, a família recebeu uma carta de rejeição final, declarando que sua solicitação ao UNHCR fora negada, sem possibilidade de nenhuma revisão posterior. Uma semana mais tarde, a polícia turca entregou uma ordem de deportação para a família.
Entretanto, no dia seguinte, a igreja de Faheem Moini, no Canadá, apelou às autoridades turcas. Ao confirmar o apoio formal para a família, a Igreja Batista Calvary, em Vancouver, no estado de British Columbia, solicitou a permanência da família no país até que os processos de imigração fossem finalizados para levá-los para o Canadá. Assim, a polícia de segurança de Ancara estendeu o período de residência temporária da família por mais seis meses.
Contudo, quando a prorrogação de seis meses expirou, a polícia em Kastamonu os informou que a residência deles não poderia ser renovada outra vez, já que o UNHCR havia encerrado o caso.
Quando a família entregou a permissão de residência vencida em 5 de outubro, a polícia turca devolveu os passaportes iranianos, documentos que permitiram a entrada deles na Turquia.
Atualmente, a família não sabe onde deve buscar ajuda.
"Eles não deveriam ser enviados de volta para o Irã", disse a Compass o pastor que batizou a família. "Este caso deveria ser divulgado para todo o mundo".
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