Um olhar de relance antes do culto, a aproximação durante as atividades do grupo jovem ou a conversa em meio ao passeio programado pela igreja. O jeito comum de os evangélicos conhecerem um grande amor está ficando para trás. Agora, muitos deles procuram parceiros pela Internet, em sites de relacionamento.
O criador de uma comunidade especializada no Orkut descreve a função do grupo: “Se você procura alguém especial, mas que deve ser de acordo com a vontade de Deus, você está no lugar certo”.
Geralmente, os pastores não recomendam o uso do computador para facilitar a aproximação, mas é cada vez maior o número de evangélicos que optam pelas conversas pela Web. O funcionário público Paulo Santos, de 47 anos, diz que já conheceu várias pessoas dessa forma e o último relacionamento durou quase dois anos.
“Sou aberto a isso! Já sei detectar as nuances. Minha estratégia é combinar um encontro o quanto antes, não ficar muito tempo só trocando mensagens”. Dessa forma, ele tenta evitar os enganos que o contato virtual pode causar.
Os evangélicos, que já somam 15,4% da população do Brasil, ainda são vítimas do preconceito – resultado de imagens negativas deixadas por atitudes como a do bispo Sérgio Von Helde, da Igreja Universal do Reino de Deus, que chutou uma imagem de Nossa Senhora de Aparecida, e do bispo Edir Macedo, flagrado dividindo o dinheiro arrecadado durante um culto com outros bispos da igreja.
Os episódios foram superados, mas a má impressão ficou. “Se você namorar uma pessoa da mesma religião, vai falar a mesma língua. Os evangélicos têm os mesmos gostos, as mesmas idéias. Até entre os evangélicos há perfis diferenciados. Tem a linha mais pentecostal, a menos pentecostal… tem o fiel mais agitado, o mais calmo, etc. Agora, imagina se você for buscar alguém em outras religiões”, diz Paulo Santos.
A pastora Valéria Barbosa, da Assembléia de Deus da cidade de Mesquita, no Rio de Janeiro, enfatiza o poder da fé em detrimento da tecnologia. “A Internet tanto pode ajudar, quanto atrapalhar, porque você não sabe quem está por trás destas comunidades. Eu aconselharia as pessoas a desistirem disso. Nós temos que orar e aguardar. Mesmo quando a gente conhece alguém pessoalmente, deve pedir a Deus a direção para saber se aquela é a pessoa certa”.
O estagiário de engenharia, Ricardo Luz acredita que seguir a mesma orientação religiosa ajuda a estabelecer laços mais firmes.
“No começo do namoro, tudo vai bem. Depois, com o tempo, pode ser que você não queira abrir mão da sua convicção religiosa e a pessoa não queira te acompanhar. Começa um clima de desconfiança e de insatisfação. Namorar alguém com a mesma crença pode evitar problemas futuros”.
Contudo, Ricardo não teve sorte ao tentar encontrar sua alma gêmea pelo Orkut. Ele entrou em uma comunidade e conheceu uma moça de São Paulo. Tudo ia bem enquanto o contato era virtual, mas o encontro cara-a-cara acabou com o encanto.
“Como não tinha foto no meu perfil, acho que eu não era bem como ela imaginava. Quando a gente se falava pelo MSN, parecia até que éramos namorados. Fui a São Paulo para conhecê-la, mas depois disso ela parou de conversar pela Internet e se afastou de vez. Eu respeitei a decisão dela, mas queria que tivesse dado certo. Nada como estar ao vivo para conhecer a pessoa, porque ela pode estar mentindo ou não ter uma intenção sincera. Melhor é conhecer alguém por meio de amigos em comum, para ter referências. A aproximação pela Web pode até funcionar, mas é perigosa”.
Ricardo Luv não vai mais tentar conhecer uma pretendente pela Internet. “Eu desisti desse meio. Pode até ser que use a Internet para me comunicar depois que já esteja namorando, mas para conhecer não”.
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