“Atenção integral da mãe, rede social de apoio e fé são fatores importantes para superar o processo de hospitalização e tratamento”. Estas foram as conclusões de uma pesquisa realizada na Faculdade de Filosodia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto (FFLCRP) da Universidade de São Paulo (USP). No estudo, a psicóloga Shirley Teles constatou que para as mães, o atendimento particularizado, com a valorização de seus acompanhamentos, “a fé em um deus”, e as atividades lúdicas, aliados à presença de voluntários e amigos, são fatores essenciais para o sucesso do tratamento. “Já as crianças responderam de forma mais concreta, citando a rede social de apoio (desde voluntários e médicos até as mães) como ajuda para o período de internação”, conta a pesquisadora que estudou o tema em sua dissertação de mestrado.
Tanto mãe quanto filho enfrentam a situação de doença estabelecendo relações autênticas de cuidado, isto é, “relações em que se percebem as reais necessidades do outro”, entre eles e com o auxílio da rede social de apoio. Estas relações autênticas de cuidado são possíveis nos momentos em que ambos estão dedicados exclusivamente ao tratamento, por conta desse auxílio, e podem assim perceber as reais necessidades do outro.
A pesquisa foi baseada em entrevistas feitas com nove mães e seus respectivos filhos de 6 a 11 anos, no Ambulatório de Curados do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto, também da USP. O objetivo foi compreender o que mães e crianças percebem a partir de suas vivências com o câncer e o que contribuiu para o enfrentamento da situação de doença, tratamento e hospitalização. De acordo com Shirley, “tanto mãe quanto filho têm um melhor olhar da situação após passarem pela situação”; por isso, a escolha por fazer as entrevistas no Ambulatório de Curados, e não com mães e pacientes em pleno tratamento.
A motivação para o estudo veio de um estágio na área de câncer infantil que Shirley fez em Aracaju (SE), sua cidade natal. Lá, começou a pensar na questão da relação entre mãe e criança no tratamento da doença, “de como as mães cuidavam da criança e dos comportamentos diferentes das crianças em relação à doença”.
Ao invés de usar formulários convencionais para sua pesquisa, Shirley optou por ouvir relatos livres nos depoimentos de mães e filhos, buscando o significado de cada um para aquela vivência. A partir disso, a pesquisadora encontrou pontos comuns entre as entrevistas para formular as conclusões de seu trabalho.
O método utilizado na pesquisa foi o “fenomenológico-existencial”. As entrevistas guiadas por este método fogem dos convencionais formulários e foram elaboradas a partir da corrente filosófica conhecida como Fenomenologia, que, segundo Shirley, “foi desenvolvida pelo filósofo alemão Edmund Husserl e trabalha com a perspectiva e a tentativa de resgatar o ser de uma forma total, por meio de suas vivências e seus significados”. A partir dessa filosofia, a pesquisadora não partiu de pressupostos ou formulários fechados para obter os depoimentos de mães e filhos, e sim de relatos mais livres, buscando o significado de cada um para aquela vivência.
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