cA crise política interna na qual o Mali está mergulhado desde março de 2012 teve maior destaque na mídia internacional após a intervenção francesa que teve início na sexta-feira, 11 de janeiro. Por meio de ataques aéreos, o exército francês permitiu que tropas do Mali retomassem o controle da cidade central de Konna, ocupada por islâmicos desde o dia anterior.
Dessa data em diante, aviões franceses têm bombardeado bases islâmicas em Timbuktu, Gao e em outras áreas do norte do território. Desde abril do ano passado, mais da metade do Mali foi tomada por grupos rebeldes, alguns com ligações à Al-Qaeda.
Cidadãos malianos mostraram-se bastante positivos quanto à intervenção militar francesa. Na capital Bamako, moradores têm manifestado publicamente sua alegria e satisfação diante do apoio enviado pelo governo da França. A ação militar aumentou as esperanças de libertação do Norte da ocupação dos islâmicos.
A fim de erradicar o extremismo
Até recentemente, o Mali podia ser considerado um típico Estado do Oeste Africano, com o islamismo moderado. É constitucionalmente laico, e partidos políticos com conotações religiosas são proibidos, apesar de uma alta porcentagem da população ser declaramente muçulmana. A convivência com as minorias religiosas (cristãos e animistas), tinha sido pacífica até então.
Por muito tempo, cristãos haviam desfrutado da liberdade compartilhada por toda a sociedade do Mali, incluindo missionários estrangeiros, que também estabeleceram-se ao norte. Mas a situação mudou drasticamente com o golpe militar promovido por rebeldes tuaregues separatistas e combatentes islâmicos que, em 2012, tomaram o poder.
Assim que passaram a controlar as decisões políticas do país, de pronto os extremistas estabeleceram um Estado islâmico no Norte, com um regime restrito à sharia (lei islâmica). Eles atacaram e destruíram igrejas e outros edifícios cristãos em Timbuktu e Gao, com o objetivo de erradicar todos os traços do cristianismo na região.
Os rebeldes também foram bastante severos com os muçulmanos menos fundamentalistas: mataram pessoas, amputaram membros e destruiram santuários sufistas muçulmanos.
As duras condições levaram milhares a fugir. Segundo o Alto Comissário das Nações Unidas para Refugiados (ACNUR), mais de 250 mil malianos vivem, atualmente, em países vizinhos como o Níger, Burkina Faso ou Mauritânia, e cerca de 200 mil outros fugiram para Bamako.
Todo esse conflito violento no Mali, empurrou o país à 7ª posição da Classificação de Países por Perseguição (WWL) 2013*, um ranking das 50 nações onde as condições para cristãos são potencialmente mais opressivas. Ele é publicado anualmente pela
Portas Abertas Internacional. O Mali nunca tinha sido aparecido na lista antes.
Ajuda humanitária
Entre outras iniciativas, foi criado um comitê de crise por um grupo de igrejas e missões em Bamako, para ajudar um mínimo estimado de 330 famílias de refugiados cristãos que já deixaram o Norte. A ideia é auxiliar os refugiados com alimentos, abrigo e assistência médica, bem como, a longo prazo, oferecer apoio educacional e profissional.
Muitos cristãos que vivem agora em Bamako estão aflitos por não saberem se alguns de seus familiares estão vivos ou mortos.
"Eu entreguei minha vida a Cristo há dois anos, mas todos os membros de minha família são muçulmanos, é por isso que minha esposa e filha me desprezam", disse Mohamed Habi, um refugiado. "Quando os islâmicos ocuparam a cidade de Timbuktu e iniciaram sua busca por cristãos (para matar), eu escapei para a Mauritânia. Da Mauritânia fui para Bamako a fim de encontrar-me com outros cristãos."
Ataques militares franceses abriram caminho para o envio de uma missão militar internacional. Muitos países do Oeste Africano anunciaram sua intenção de enviar tropas para o Mali. Mais de três mil soldados são esperados nos próximos dias, como parte da Missão Militar para a Estabilização do Mali, apoio oficial da ONU, com suporte logístico de alguns países ocidentais como o Reino Unido e os Estados Unidos.
Peritos militares da França alertam, porém, que a luta para a retomada do controle do norte do Mali não será uma tarefa fácil. O ministro da Defesa francês Jean-Yves Le Drian disse que a campanha da França no Mali é promover um "desenvolvimento favorável". Mas ele admitiu que a situação é "difícil" e os combatentes islâmicos estão bem armados.
De acordo com um analista, se as forças internacionais não afastarem os islamistas do norte do Mali, não haverá esperança de reconstrução de uma sociedade cristã no Norte. A igreja no Sul também é cautelosa com a crescente influência do Islã na política do Mali.
*Classificação de Países por Perseguição (WWL) 2013
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