Um grupo de entidades cristãs de ação social publicou uma carta aberta aos políticos evangélicos brasileiros pedindo, em resumo, que honrem o mandato para o qual foram eleitos respeitando as leis e os princípios cristãos.
No texto, a Aliança Bíblica Universitária do Brasil, a Rede FALE e o Seven Movimento Estudantil afirmam que seu propósito é expressar as “inquietações sobre os desafios que estão diante de nós para a construção de uma nação justa e inclusiva”.
Os representantes das entidades destacam que o Brasil é um país com leis modernas, mas que precisam ser colocadas em prática para que exista justiça social e cidadania.
A carta ainda destaca que é preciso vigiar pelos “direitos consagrados na Constituição Federal e que estão de acordo com o princípio basilar da Justiça do Reino de Deus”, e lembra que a separação entre a religião e o Estado é uma bandeira da Reforma Protestante.
Um dos pontos que essas entidades se posicionam de forma contrária à maioria dos parlamentares da bancada evangélica no Congresso Nacional é a redução da maioridade penal.
Confira a íntegra da carta:
O que segue a justiça e a beneficência achará a vida, a justiça e a honra”. Provérbios 21.21
Prezados irmãos e irmãs parlamentares,
Nós, organizações evangélicas envolvidas com a agenda de ação social e de direitos humanos e engajados na transformação efetiva de nossa nação, escrevemos essa carta com intuito de manifestar nossas inquietações sobre os desafios que estão diante de nós para a construção de uma nação justa e inclusiva.
Constatamos que a cada ano aumenta a inserção dos evangélicos na vida pública brasileira. Percebemos que o momento atual nos apresenta uma oportunidade concreta para a promoção e a defesa dos direitos das pessoas e grupos mais vulneráveis. Entendemos que a postura apropriada de irmãos e irmãs que ocupam cargos de função pública é de escuta a Deus e à sociedade, a fim de que seu exercício esteja a serviço daqueles que mais carecem. Quando um cristão está imbuído desse espírito, ele dá bom testemunho de sua fé e promove a justiça e equidade do Reino. Com esse entendimento, escrevemos esta carta como um apelo à boa consciência dos congressistas que tem orientação de fé evangélica.
Em primeiro lugar, julgamos que cabe aos deputados evangélicos o respeito ao princípio do Estado Laico. A laicidade é, sobretudo, uma das grandes bandeiras históricas doo protestantismo brasileiro. Devemos valorizar esse legado como uma bela contribuição que nossos irmãos do passado deram para a sociedade e a democracia brasileiras. Somos chamados a respeitar a liberdade de crença e a pluralidade que é tão presente numa sociedade complexa como a nossa.
Entendemos também que é importante que a nossa luta se paute pelo reconhecimento de que é preciso assegurar direitos consagrados na Constituição Federal e que estão de acordo com o princípio basilar da Justiça do Reino de Deus. Embora o Brasil tenha uma legislação avançada em diversas áreas, em muitos casos ela ainda precisa ser efetivada. Conclamamos nossos irmãos para a defesa de direitos já adquiridos de crianças, adolescentes e jovens, idosos, negros, índios e mulheres. Somos ainda um país que não superou o racismo, que destrata os mais velhos, desconsidera os índios, massacra seus jovens e violenta as mulheres, desvaloriza professores, de mineradoras que violentam o solo, desperdiçando toneladas de água e pelo total desrespeito ao meio ambiente. Que a defesa das famílias brasileiras se paute, sobretudo, pela eliminação dessas tragédias que se perpetuam e assaltam os lares em todo país. Ao lidar com essas situações que geram morte, desejamos que se faça defesa intransigente desses direitos.
Soma-se a esses pontos uma necessária e urgente reforma política que coíba os vícios que corrompem o jogo democrático. É preciso frear os grupos poderosos que financiam campanhas astronômicas para logo depois cobrar a fatura com esquemas que violentam a ética e a moralidade públicas. Apoiamos também a criação e formalização de instâncias de participação social em todas as fases de elaboração, definição, aprovação e execução de Políticas Públicas. Defendemos também, como pauta positiva, a efetivação do Sistema Nacional de Atendimento Socioeducativo (Sinase), o Plano Nacional de Juventude e o PL 4771/2012, que trata do fim do auto de resistência. Infelizmente há ainda uma grande desproteção social que coloca os jovens pobres em situação de vulnerabilidade ante a violência institucional, pela falta de perspectiva de trabalho, cultura, educação, saúde e lazer de qualidade.
Irmãos e irmãs, o apóstolo Paulo pede para que oremos por nossas autoridades. Nosso clamor é para que tenham sabedoria para honrar seus mandatos. A Palavra do Senhor nos diz em Provérbios 14.31 que somos honrados por Deus quando cuidamos dos pobres. Que o caminho da defesa dos pobres seja a coroa dos vossos mandatos.
Em Cristo,
– Aliança Bíblica Universitária do Brasil
– Rede FALE
– Seven Movimento Estudantil
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