O dia 11 de setembro foi, mais uma vez, marcado, mundialmente, pela violência. Um ataque anti-EUA matou o embaixador americano na Líbia e mais três funcionários. Uma onda de medo e perigo se estende pelos países onde as crenças islâmicas falam mais alto que a legislação e os direitos humanos. Cristãos e civis correm risco de vida. Radicais agem em retaliação a um vídeo divulgado na Internet que vai contra o profeta Maomé e os princípios do Islã
Na última sexta-feira (14), o Papa Bento XVI viajou ao Líbano, no Oriente Médio, em resposta aos atos de violência contra os ocidentais, que continuam a se espalhar por toda a região até à Ásia. O acontecimento se seguiu ao ataque contra o consulado dos Estados Unidos em Benghazi, na Líbia, que matou o embaixador americano Christopher Stevens e três de seus colegas norte-americanos.
A violência contra o consulado dos EUA na Líbia foi desencadeada, supostamente, pela descoberta de um filme anti-islâmico produzido nos Estados Unidos por alguém ligado a Morris Sadek, um cristão egípcio (denominado copta) que mora no país norte americano. A tradução do filme para o árabe, transmitido em estações de TV e talk shows do Oriente Médio provocou uma sucessão dos ataques em diversos países - embora investigações já estejam em curso, em Washington, para estabelecer se a violência não foi espontânea.
Comunidades coptas fugiram rapidamente dos lugares onde havia maiores retaliações de islâmicos. O intelectual e pesquisador egípcio Adel Guindy, presidente da Solidariedade Copta, disse que o filme é "estúpido e revoltante”. E afirmou: “Não sabemos com certeza se Sadek tem alguma coisa a ver com o filme, mas se tiver, eu acho que ele aproveitou a oportunidade para provocar os muçulmanos no Egito, como de costume."
Outros líderes cristãos também condenaram o filme. A Igreja Ortodoxa Copta emitiu uma declaração condenando o vídeo como "abusivo" ao profeta Maomé, “realizado por alguns coptas que vivem no estrangeiro", e "rejeitando tais atos que ofendem as crenças religiosas e todas as religiões."
Muitos cristãos na região têm permanecido em silêncio, à espera dos próximos acontecimentos, enquanto o furor muçulmano cresce nas ruas.
"Nós alertamos membros da igreja que, após a oração, foram planejadas manifestações em mesquitas, por isso seria melhor ficarmos em casa" disse um cristão do Cairo.
Em meio a tudo isso, o Papa católico romano Bento XVI tem usado sua viagem ao Líbano para atender tanto a líderes cristãos quanto muçulmanos. Durante seus três dias lá, ele atendeu políticos e líderes de 18 grupos religiosos do país.
"Todos os líderes religiosos no Oriente Médio devem se esforçar, pelo seu exemplo e seus ensinamentos, a fazer todo o possível para erradicar esta ameaça que, indiscriminadamente e fatalmente, afeta os crentes”, disse o líder cristão a jornalistas.
Bento XVI descreveu a primavera árabe como "um desejo de mais democracia, mais liberdade, mais cooperação e de uma identidade". Disse ainda a Suleiman, presidente libanês, que estava visitando o país como um "peregrino da paz".
A origem dos acontecimentos
Na última terça-feira (11), um grupo de homens armados incendiou o consulado dos EUA em Benghazi, na Líbia, em um ataque que matou o embaixador americano Christopher Stevens e feriu outro três funcionários. O episódio ocorreu apenas algumas horas após um ataque similar contra a embaixada dos EUA no Cairo. Acredita-se que ambos os atos de violência - que ocorreram no dia do aniversário das Torres Gêmeas em Nova York - estão ligados ao escândalo provocado por um filme produzido nos Estados Unidos, que zomba do profeta Maomé.
O vídeo foi produzido por um israelense-americano e liberado por um expatriado egípcio. Algumas sequências podem ser vistas no Youtube. Entre os defensores do filme, está o pastor Terry Jones, que em 2010 provocou uma revolta no Afeganistão após ameaçar queimar o Alcorão, livro sagrado islâmico.
Segundo a agência de notícias BBC, “os comentários mais ofensivos sobre o islã e sobre o profeta Maomé foram claramente dublados posteriormente sobre a trilha sonora e não foram falados pelos atores. Uma atriz que aparece no filme diz que não tinha ideia de que seria usada para propaganda anti-islâmica e afirmou que a condenava”.
O ataque à embaixada dos EUA no Cairo foi, explicitamente, ligado ao filme, considerado uma blasfêmia ao Islã. Centenas, se não milhares de egípcios, bloquearam a entrada da embaixada, escalaram a parede e rasgaram a bandeira dos EUA, queimando-a em pedaços. Os manifestantes exigiram que o filme fosse proibido e que os Estados Unidos se desculpassem pelo ato.
Os autores dos ataques ainda são desconhecidos. Alguns sugerem a influência da Al Qaeda, outros, a grupos ainda leais a Gaddafi. Em muitos países islâmicos aconteceram manifestações contrárias ao filme, em frente à embaixada dos EUA. Na quinta-feira (13), no Egito, 224 manifestantes foram feridos e 23 pessoas foram detidas. No Iêmen, quatro pessoas foram mortas e 34 ficaram feridas. No Afeganistão, Paquistão, Indonésia o site do Youtube foi bloqueado. Líderes muçulmanos condenam o filme e incitam a violência anti-EUA.
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